Filme e música pelas ?mortas de Juarez?

Escrito en NOTÍCIAS el

Atores e atrizes mexicanos assumiram a promoção do super premiado documentário Bajo Juarez, que aborda o caso de centenas de mulheres assassinadas nessa cidade, enquanto cantores e músicos preparam um CD sobre o tema.

O filme estréia hoje, 8, nos cinemas do México após uma ampla divulgação feita por figuras como Héctor Bonilla, Cecília Suárez, Ana de la Reguera e Eugenio Derbez. Eles, como o filme, denunciam a impunidade no caso das “mortas de Juarez”.

De forma paralela, o grupo musical Jaguares e os cantores Eugenia Leon e Ely Guerra, entre outros, anunciaram que unirão suas vozes para gravar um CD em homenagem às mulheres assassinadas de Juarez, a cidade mexicana vizinha da norte-americana El Paso. O documentário Bajo Juarez conta o caso de uma das mulheres assassinadas e em seu desenvolvimento apresenta outros e expõe o testemunho de jornalistas e versões de autoridades policiais que parecem beirar o absurdo. O filme estreou previamente em festivais onde foi premiado, como Sundance, San Diego Latino Film Festival, e Chicago Latino Film Festival, os três nos Estados Unidos, e no Cinesul, do Rio de Janeiro. “O documentário gera indignação, mas ao mesmo tempo convida à solidariedade com as vitimas e a denúncia”, disse o crítico de cinema Rey Ojeda.

A série de assassinatos de mulheres em Juarez, a grande maioria dos quais permanece impune, motivou uma ampla mobilização de organizações humanitárias e feministas do México e do exterior. Sobre o tema foram escritos numerosos livros e produzidos vários outros documentários. Mas Bajo Juarez é uma das melhores produções até agora “por seu manejo cinematográfico impecável”, disse Ojeda. O filme foi dirigido pelos mexicanos José Antonio Cordero, que trabalha com ficção e documentário desde 1991, e Alejandra Sánchez, com experiência similar desde 1996. no caso de Juarez, “a impunidade é o que mais dói quando se sabe quem são os culpados e ninguém faz nada”, disse o ator Eugenio Derbez, que junto com vários outros artistas promoveu o documentário.

Organizações defensoras dos direitos humanos e de familiares das vitimas dizem que em Juarez foram assassinadas cerca de 500 mulheres desde 1993, grande parte antes sendo violentada e torturada. As hipóteses sobre esses crimes incluem desde cultos satânicos até negócios ligados à pornografia. Também há suspeitas de trafico de órgãos humanos.

Mas um informe de 2006 da extinta Promotoria Especial para a Atenção de Delitos Relacionados com os Homicídios de Mulheres no Município de Ciudade Juarez, criada pelo governo de Vicente Fox (2000-2006), afirmou que “se distorceu a dimensão exata do problema”, o que gerou mitos e boatos infundados. As investigações da Promotoria que em seu momento indignou ativistas deram com resultado que na morte violenta de cerca de 400 mulheres não há nenhum padrão de assassinatos em série e que apenas 78 estão relacionados com ataques sexuais.

Além disso, afirma-se que 125 morreram em suas casas vitimas de familiares ou amigos e a maioria das assassinadas convivia em um ambiente altamente “criminológico e violento”. Segundo Ojeda, “qualquer que seja a versão correta, os assassinatos de uma ou duas mulheres devem ser denunciados e gerar indignação, essa é a virtude do documentário Bajo Juarez”. Os assassinatos foram alvo de estudo por comissões legislativas, peritos estrangeiros especialmente contratados e de órgãos internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Mulher e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

A idade de quase todas as vítimas estava na faixa dos 15 aos 30 anos, e muitas eram de camadas sociais pobres que trabalhavam em indústrias das zonas francas para fabricação de produtos para exportação. A força de trabalho desse setor está formada em sua maior parte por mulheres jovens, que freqüentemente vivem longe de suas famílias. (IPS)