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Há quem diga que a aliança entre o pensamento liberal e a ultradireita é mais uma “jabuticaba” brasileira. Mas ela aconteceu também na Alemanha, nesta quarta-feira (5), quando o liberal Thomas Kemmerich foi eleito primeiro-ministro do Estado de Turíngia.
A eleição de Kemmerich foi bastante surpreendente. O favorito era o representante do partido Die Linke (A Esquerda), Bodo Ramelow, candidato à reeleição, apoiado pelo SPD (sociais-democratas) e pelo Partido Verde. Na última hora, porém, o líder dos liberais, representante do partido FDP, fez uma aliança com a AfD (Alternativa para a Alemanha), partido neonazista.
FDP, como foi citado acima, não é erro de digitação, nem um trocadilho sobre a manobra de Kemmerich. Essa é realmente a sigla em alemão do Partido Democrático Liberal, que costuma ser aliado a nível nacional do CDU (União Democrata Cristã), da chanceler Angela Merkel. Aliás, o partido da chanceler também terminou votando a favor da aliança entre liberais e neonazistas em Turíngia. Que venceu por apenas um voto de diferença.
O resultado provocou um repúdio social enorme na Alemanha, tanto em tamanho quanto em velocidade. Ainda na noite de quarta-feira, milhares de pessoas de manifestaram em frente às sedes do FDP e do CDU, não só em Turíngia como em cidades como Berlim, Munique, Hamburgo, Frankfurt e outras. Alguns cartazes acusavam os partidos de serem “cúmplices do fascismo”.
A ação que despertou toda a onda de indignação contra o resultado foi da deputada Susanne Hennig-Wellsow, do Die Linke. Pela tradição, os deputados do Parlamento de Turíngia devem ir cumprimentar o eleito após o fim da sessão, mas a deputada tinha outros planos. Ela até foi até o palco onde estava Kemmerich com um buquê de flores, atirou-o aos pés do líder dos liberais, e deu meia volta sem sequer olhar na sua cara.
Outra reação chamativa sobre a vitória de Kemmerich foi a do seu adversário, Bodo Ramelow, que postou um tuíte com uma citação histórica que aumentou ainda mais a controvérsia do resultado: “`Conseguimos o melhor resultado na Turíngia. Hoje, somos realmente o partido determinante por lá (…) Os partidos que formavam o governo na Turíngia até agora não conseguirão mais formar maioria sem a nossa contribuição´. Adolf Hitler, 02/02/1930”, recordou o líder da Esquerda.
Mas Kemmerich não suportou nem 24 dessa pressão popular. Nesta quinta-feira (6), ele renunciou ao cargo que conquistou ontem, e dissolveu o parlamento, o que obrigará o Estado de Turíngia a ter novas eleições legislativas, para escolher outro parlamento.
Após a decisão, o próprio Kemmerich tentou limpar sua imagem, dizendo que “jamais houve cooperação (dos liberais) com o AfD, e tampouco haverá”.
Por sua parte, a chanceler Angela Merkel também se referiu ao episódio, classificando-o como “imperdoável”, e afirmando que devemos nos opor firmemente ao discurso dos extremistas, ou não seremos livres” – só esqueceu de fazer a autocrítica, já que os representantes do seu partido em Turíngia apoiaram a aliança de Kemmerich.