Geraldo Alckmin afirma SP como vanguarda da repressão

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Invasões da polícia sem mandados judiciais; repressões seletivas a manifestações, conforme a orientação política; “golpe do pato” tem sua face bandeirante Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho), em seu blog, no Outras Palavras Dizem que não é golpe porque a tomada do poder sem voto não teve força bruta. O que já seria uma falácia. Mas o que está acontecendo em São Paulo mostra que o golpe do pato – esse que levou Michel Temer ao poder – possui, sim, um braço armado. Ao reprimir protestos de modo seletivo, a Polícia Militar paulista está se afirmando como polícia política. Ao permitir invasões disfarçadas de “reintegração de posse”, o governo estadual patrocina um Estado de exceção. Os últimos minutos do domingo, 22 de maio, e o início desta segunda-feira podem ser considerados o símbolo desse avanço repressor, ao escancará-lo. Manifestantes contra o governo Temer não puderam ficar acampados em uma praça próxima da casa do interino, no Alto de Pinheiros – bairro rico da capital. Mesmo após negociação feita anteriormente para que trocassem o local. Eles foram expulsos pela polícia com jatos d’água e bombas: bombas de efeito moral, bombas de gás lacrimogêneo. Bombas. As mesmas bombas que não foram utilizadas para dispersar acampamento na Avenida Paulista. E por quê? Porque esse acampamento reúne manifestantes anti-Dilma. Mesmo que ele esteja ali há dois meses. E mesmo que alguns desses manifestantes cheguem a parar a avenida, com apenas meia dúzia de pessoas. Nessas horas não é invocada a “liberdade de ir e vir” dos carros. Porque essa invocação é cínica. Os critérios não são de segurança pública. São critérios políticos.
E não foi a primeira vez. No dia 18 de maio, estudantes secundaristas caminhavam até a Secretaria de Educação quando foram atingidos por bombas. O professor da USP Pablo Ortellado relatou que policiais corriam com pedaços de pau – policiais corriam com pedaços de pau – para agredir os adolescentes, que protestavam contra os cortes na educação. Pelo menos seis estudantes foram presos. Outros tiveram ferimentos na cabeça. Pergunta retórica: adolescentes ou grandalhões que protestassem contra Dilma seriam reprimidos assim? Não seriam. À MARGEM DA JUSTIÇA Uma polícia que tem lado é uma polícia a serviço de usurpadores. De gente que não tem o Estado Democrático de Direito como referência. Não à toa, essa polícia já emite sinais de que não apenas reprimirá manifestações (as manifestações que a Secretaria de Segurança Pública decidir que não podem ser realizadas). Mas invadirá espaços – públicos e privados – sem mandado judicial. Sob o silêncio da OAB, da grande imprensa golpista e mesmo de parte da esquerda resistente ao golpe. Tome-se, por exemplo, a operação da PM contra um churrasco numa república estudantil em Bauru, no interior. Um espaço privado, portanto. Foi no domingo, dia 15. Supostamente algum vizinho reclamou do som. Bastou para que 11 viaturas se deslocassem até o local. Vejamos o relato de um dos estudantes: – O primeiro policial, num estado de ânimo e exaltação inacreditável, esgoelava: “Eu quero aquele moleque!, hoje vocês vão conhecer a Polícia Militar do Estado de São Paulo! Enquanto eu e outros amigos tentávamos argumentar vi uma menina amiga nossa ser agredida com o cassetete por um dos PMs. Perguntei se era hábito deles a covardia e a agressão gratuita a mulheres. Tomei o primeiro soco, na cabeça. Tudo isso sem autorização da Justiça. Assim como não houve mandado judicial para que a polícia invadisse o Centro Paula Souza, no dia 2 de maio. O Tribunal de Justiça chegou a determinar a saída da polícia. Depois, com mandado, houve a reintegração de posse. No dia 13 de maio, porém, uma novidade: “PM retira estudantes que ocupavam escolas sem autorização da Justiça“. Por decisão da Procuradoria Geral do Estado. Os secundaristas reivindicavam merenda. Adolescentes de 15 anos foram levados para delegacias. Mas o procurador disse que a autorização não era necessária. “Isso se banalizou”, disse ele. “E é claro que o mecanismo judicial mostrou sua ineficiência”.
LÁ VEM O PATO – E A PAULADA Note-se que o acampamento na Avenida Paulista, aquele que ganha blindagem da polícia de Geraldo Alckmin, já teve cenas de truculência explícita. Durante uma manifestação contra o golpe, jagunços defensores do pato – defensores da Fiesp – decidiram enfrentar a massa com pedaços de pau. Um jornalista que tentava apartar a briga teve os dentes quebrados. O que não deixa de ser simbólico. Quem ousar invocar a democracia ou a paz, em um momento como este, estará sujeito a levar pauladas. Policiais ou jurídicas. Em nome da “eficiência”, da “segurança nacional”, ou de qualquer pretexto fascista. Quem tem alguma memória não pode ser conivente. Foto de capa: Mídia Ninja