"Não se pode confundir o fundamentalismo islâmico com aquele que nasceu no interior do neopentecostalismo brasileiro", afirma o professor e historiador Leandro Seawright, especialista em história política e religiosa. "Com esforço, podemos comparar os nominados 'Gladiadores do Altar' ao Estado Islâmico apenas em alguns aspectos, porque até aqui é preciso reconhecer que se tratam de movimentos distintos não apenas em relação aos núcleos de suas crenças, mas em relação às suas práticas."
Seawright explica porque a comparação direta entre os dois coletivos é simplista. "O Estado Islâmico é uma intrincada organização terrorista que atua evidentemente militarizada, mas os rapazes que compõem os 'Gladiares do Altar' estão em um processo diferenciado de assimilação da 'imagética militarizada'", argumenta. "Isto é, o Estado Islâmico visa à conquista sincera da conversão das pessoas subjugadas ao islamismo principalmente sunita e, para tanto, utiliza-se de violência, pois perpetram pessoas com torturas, mutilações e condenam à morte. Sob outra perspectiva, o 'marketing neopentecostal jihadista' [praticado pela IURD] até o presente momento busca a 'conversão', a 'adesão' ou a 'conquista' de 'almas pecadoras e decadentes' por meio da expansão neoliberal do moderno 'mercado dos bens de salvação'". Ainda segundo o historiador, "os “Gladiadores do Altar” substituíram, pois, a violência física e terrorista perpetradas aos crédulos de outras religiões pela violência simbólica da 'militarização ideária' de jovens fiéis ao rentável 'mercado de salvação'".
Para o professor, EI e "Gladiadores do Altar" têm um ponto em comum: o marketing. "Os dois movimentos utilizam-se de estratégias de propaganda midiática para atrair pessoas e demonstrar os poderes dos fundamentalismos religiosos, mesmo que sejam divergentes nos mais variados aspectos, tais como os teológicos, os culturais, os políticos e os ritualísticos", considera.
De acordo com Seawright, Jean Wyllys está correto quando relaciona o grupo de fieis evangélicos a práticas fundamentalistas" "É possível que ele esteja certo em relação à intolerância do fundamentalismo religioso de quaisquer orientações, culturas e textos sagrados, pois os temas são partilhados e as discriminações são mantidas mesmo em tempos fluidos como os contemporâneos. Por isso, concordo que práticas como essas contribuem para com o recrudescimento do fundamentalismo religioso e da falta de convívio religioso", finaliza.
A reportagem entrou em contato com a Igreja Universal do Reino de Deus, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
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