Governo Bolsonaro transfere oceanógrafo de Fernando de Noronha para o sertão de Pernambuco

"Desde que o plano de manejo foi publicado em 2017, criando normas para a ampliação da hospedaria domiciliar, empresários, especificamente um grupo, começou a comprar e ampliar pousadas. O ICMBio, com a orientação de sua procuradoria e do Ministério Público Federal, notificou e multou algumas dessas pousadas", disse o oceanógrafo

Ricardo Salles (Reprodução)
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José Martins da Silva Júnior, oceanógrafo que atua na preservação marinha de Fernando de Noronha há mais de 30 anos, foi transferido pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para a Floresta Nacional de Negreiros, outra unidade de conservação no sertão pernambucano. A mudança, que aconteceu contra a vontade do oceanógrafo, foi assinada na última quinta-feira (1º) pelo presidente do instituto, o coronel Homero de Giorge Cerqueira, ex-comandante da Polícia Ambiental de São Paulo, escolhido em maio pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (foto), para chefiar o órgão ambiental federal. De acordo com Martins, a decisão de removê-lo tem relação com o interesse de empresários da região. "Desde que o plano de manejo foi publicado em 2017, criando normas para a ampliação da hospedaria domiciliar, empresários, especificamente um grupo, começou a comprar e ampliar pousadas. O ICMBio, com a orientação de sua procuradoria e do Ministério Público Federal, notificou e multou algumas dessas pousadas", disse ele à Folha. "Apesar de não trabalhar na fiscalização, eu trabalho no ordenamento territorial, então ajudava as chefias no cumprimento da legislação e apontava casos em que a legislação era descumprida. Acredito que a minha remoção deve estar relacionada a isso, em função de várias reuniões que esses empresários tiveram em Brasília e em Fernando de Noronha com o presidente do ICMBio e o ministro do Meio Ambiente", disse. O coronel Cerqueira, no entanto, justificou a transferência através de um despacho dizendo que há uma discrepância no número de servidores lotados nas duas regiões. Martins se manifestou formalmente contra a mudança, em um documento de cerca de cinco páginas, mas a decisão foi mantida pelo coronel. Na manifestação, o oceanógrafo expressa "desconforto" em não ter sido consultado e diz por que não é indicado para o cargo na floresta de Negreiros, contrapondo o argumento do ICMBio de que tem experiência nas áreas de educação ambiental, unidades de conservação e ecoturismo. "Analisando meu currículo Lattes, observa-se que dos 35 cursos listados no item formação complementar, nenhum é referente a ecoturismo, educação ambiental ou gerência de unidade de conservação. Dos 22 artigos completos publicados em periódicos, 21 são sobre golfinhos oceânicos, oceanografia biológica e oceanografia física. Os meus três livros publicados são sobre golfinhos ou a temática marinha e dos meus 20 capítulos de livros publicados, 19 são sobre golfinhos ou a temática marinha", diz. Com informações da Folha