Guerra biológica: famílias do Quilombo Campo Grande temem contaminação por Covid-19

Dirigente do MST usa expressão para definir risco a que pessoas estão expostas na ação e destaca que não havia nenhum caso do novo coronavírus entre as famílias ameaçadas de despejo

Trabalhadores rurais em meio ao despejo no Quilombo Campo Grande, em MG (Reprodução/Twitter)
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O medo de uma contaminação coletiva pelo novo coronavírus é a maior preocupação neste momento das famílias que resistem, desde a semana passada, ao despejo no Quilombo Campo Grande, na cidade de Campo do Meio, sul de Minas Gerais.

“Foi imposta a nós uma guerra biológica, que não sabemos ainda qual será o impacto”, disse Silvio Netto, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no local, durante o Fórum Café desta segunda-feira (17).

Silvio disse que a comunidade tinha se organizado para evitar a contaminação pelo novo vírus, com protocolos rigorosos nas ações coletivas de beneficiamento e comercialização da produção do quilombo, para que ficassem expostos o mínimo possível à transmissão. Com isso, nenhum caso de Covid-19 havia sido registrado no quilombo, apesar de o município de Campo do Meio ter 19 confirmações da doença.

Mas a resistência ao despejo, afirmou o dirigente do MST, provocou “três dias de exposição sem precedentes” e exigiu uma união física, inclusive. “A gente precisou ficar de mão dada, abraçado, compartilhar a garrafa d´água, o prato... Não teve condição de ficar com máscara e  tivemos contato com muita gente que veio de fora, inclusive os policiais”, disse Silvio.

Por isso, segundo ele, a maior preocupação das lideranças nesse momento é com a possível contaminação de várias pessoas do quilombo. “Podemos estar diante de um genocídio, que é anunciado”, afirmou.

Conflitos na terra

Também participou do programa o deputado federal  Helder Salomão (PT-ES), que citou dados do relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre conflitos agrários em 2019.

O documento mostra que, no ano passado, houve 1.833 casos de conflito no campo no país, o mais alto número em cinco anos. Os dados compilados mostram 32 assassinatos nesse tipo de  conflito em 2019, 14% a mais do que 2014.

Ainda segundo o levantamento da comissão, houve 1.254 conflitos por terra no ano passado. De cada três famílias envolvidas nesses confrontos, uma era indígena. E nove índios foram assassinados em 2019 nesse tipo de atrito, dos quais sete eram lideranças.  

A CPT atribui o avanço na violência no campo em parte ao discurso do presidente Jair Bolsonaro contra quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais. “O discurso do presidente é o estopim, o ambiente perfeito para que esses conflitos cresçam no nosso país”, disse o deputado.

https://www.youtube.com/watch?v=jJy_VuFiq64&feature=youtu.be