Haddad, Marta e Erundina

O Partido dos Trabalhadores já elegeu em sua História duas prefeitas e um prefeito em São Paulo: Luíza Erundina, em 1988; Marta Suplicy, em 2000; e Fernando Haddad, em 2012. Não é pouca coisa, dado o perfil majoritariamente conservador da maior cidade do país

Fernando Haddad e Luiza Erundina (Foto: SPressoSP)
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O PT já elegeu em sua história três prefeitos em SP: Luíza Erundina, em 1988; Marta Suplicy, em 2000; e Fernando Haddad, em 2012. Não é pouca coisa, dado o perfil majoritariamente conservador da maior cidade do país Por Wagner Iglecias [caption id="attachment_40971" align="alignleft" width="300"] Fernando Haddad e Luiza Erundina (Foto: SPressoSP)[/caption] O Partido dos Trabalhadores já elegeu em sua História duas prefeitas e um prefeito em São Paulo: Luíza Erundina, em 1988; Marta Suplicy, em 2000; e Fernando Haddad, em 2012. Não é pouca coisa, dado o perfil majoritariamente conservador da maior cidade do país. Erundina, paraibana de origem humilde, assistente social da prefeitura, trabalhou durante anos com migrantes nordestinos das periferias de São Paulo. Eleita vereadora em 1982 e deputada estadual em 1986, tornou-se a primeira petista a governar a cidade numa eleição duríssima, na qual aparecia como azarona. Acabou superando Paulo Maluf nos últimos dias da campanha e contou com o fato de que na época não havia 2º turno, onde era grande a chance de ser derrotada. Com minoria na Câmara de Vereadores, governou enfrentando muitos obstáculos. Perdeu no STF a proposta de aumento progressivo do IPTU e teve suas contas rejeitadas pelo TCM, chegando quase a sofrer o impeachment. Aguerrida, acostumada a enfrentar a polícia em operações de reintegração de posse de terrenos na periferia, Erundina trazia consigo a legitimidade e a garra de uma vida inteira de dificuldades. Jamais foi aceita pela elite paulistana e jamais se curvou a ela. Marta, por sua vez, é filha dessa elite. Psicóloga, em 1994 elegeu-se deputada federal e em 1998 não foi ao 2º turno da eleição para o governo estadual por poucos votos. Eleita prefeita de São Paulo em 2000 fez, assim como Erundina, um governo com ênfase no social. Encerrou sua gestão com boa avaliação por parte da população mas não conseguiu reeleger-se. A direita paulistana, em seu hábil processo de desconstrução dos políticos de esquerda, colou nela o apelido de Martaxa. E tachou-a de arrogante. Arrogante ou não, Marta veio do topo da pirâmide, o que lhe permitia, de dedo em riste, chamar um típico representante da nossa elite, como Paulo Maluf, de “nefasto”. Ou a ir visitar vielas e ruas de terra na periferia com roupas de grife. Fernando Haddad, por seu lado, é diferente de suas duas antecessoras. De origem na classe média, fez carreira acadêmica e representa mais esse PT pós-mensalão, bem diferente do velho PT guerreiro dos tempos de Erundina e mesmo do PT dos tempos de Marta. Haddad está mais para o perfil técnico da nova geração de políticos do partido. Assim como suas antecessoras, sofre uma oposição duríssima por parte da direita paulista, e até o momento parece reagir a isso de forma diferente de ambas. Já apelidado por essa mesma direita de Maldadd, Fernando Haddad é um gentleman. Parece aqueles professores pacientes e extremamente racionais, bastante confiantes de si, que jamais bateram boca com um aluno em sala e nunca desautorizaram um estudante por conta de alguma pergunta tola no meio da aula. Mas os modos excessivamente polidos do prefeito parecem irritar muitos de seus apoiadores. As críticas vêm desde a reação por muitos considerada tíbia frente às manifestações de junho passado, bem como à noite em que pareceu secundar Geraldo Alckmin em pleno anúncio de que as tarifas de trens, metrô e ônibus não subiriam mais. Outros episódios difíceis têm ocorrido em sua gestão, talvez até mais do que ocorreram com Marta e Erundina, e ao que parece seu jeito bom moço e suas reações não mudam. Embora direto e claro, Haddad pode estar perdendo a principal das batalhas numa delicada gestão como a da cidade de São Paulo: a da interação com a população. Talvez lembrar do jeitão mais aguerrido de Erundina e do dedo em riste com quem merece de Marta pudesse inspirá-lo. Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.