Homofobia e acusação de assédio sexual: Barraco na eleição da ABL

Escolha da última cadeira vaga teria sido um circo de horrores na Academia Brasileira de Letras, com troca de acusações entre imortais e discurso de ódio contra suposto candidato gay

Foto: Guilherme Gonçalves/ABL
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A sempre douta e refinada Academia Brasileira de Letras, guardiã do vernáculo da Última Flor do Lácio, já não é mais a mesma e a erudição dos literatos trajados em fardão de fios de ouro e sapatos ingleses deu lugar a um barraco bem mundano, com direito a show de homofobia e acusações graves de assédio sexual durante a campanha pela última vaga aberta no Palácio Petit Trinon.

A cadeira de número 2, ocupada pelo filósofo Tarcísio Padilha até 9 de setembro deste ano, quando faleceu, ficou disponível para que interessados e seus padrinhos no colegiado iniciassem uma campanha para preenchê-la. O também filósofo Eduardo Giannetti foi um desses interessados em fazer parte do seleto grupo de intelectuais imortais das Letras do Brasil e quem ficou encarregado de fazer sua “campanha” foi o editor Pedro Corrêa do Lago, que passou então a disparar telefonemas para apresentar o pupilo e pedir para que imortais pensassem com carinho sobre dar seu voto a ele.

Só que esses telefonemas teriam extrapolado a formalidade habitual exigida quando um candidato é oferecido por seus apoiadores. O adversário de Giannetti na disputa pela cadeira cujo patrono é o poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo (1831-1852), autor da Lira dos Vinte Anos, é o escritor e ex-secretário de Educação paulista Gabriel Chalita, e foi aí que começou o problema.

Corrêa do Lago teria ligado, conforme uma matéria da revista Veja, para pelo menos oito imortais atacando com acusações graves e discurso homofóbico o oponente de seu preferido. O editor teria dito que Chalita assediou sexualmente e moralmente um sobrinho dele há quase 20 anos, conforme um dos membros da ABL que se identificou para a publicação semanal, Carlos Nejar, que embora afirme não ter recebido o telefonema, confirmou as ligações com outros colegas do suntuoso edifício do centro histórico do Rio de Janeiro.

“Eu fiquei indignado com essa maldade que o Pedro fez. É a primeira vez que eu vejo uma campanha tão suja como essa”, falou Nejar à Veja.

“Ele não seria louco de me ligar, sabe que comigo iria ouvir poucas e boas se viesse com essa maldade. Ele fez comentário homofóbicos, o que é um crime. Não admito que se faça isso”, completou o escritor gaúcho, revoltado com um ambiente que, segundo ele, nunca vivenciou desde que foi eleito para a confraria, em 1989.

Outros imortais, exigindo anonimato, disseram que a atitude de Corrêa do Lago teria sido típica de quem perdeu a noção do que pode e do não se pode fazer numa eleição desse tipo. Houve também quem se indignasse pelas acusações levantadas, que evidentemente não teriam como ser comprovadas, o que pode ser interpretado como uma estratégia que visariam apenas a “queimar” Chalita, já que assédio sexual é crime.

O fato é que o clima se deteriorou muito no Palácio Petit Trianon depois do pesado acontecimento e não se sabe exatamente, agora, qual será o placar da próxima quinta-feira (16) quando Giannetti e Chalita receberão votos de seus imortais simpatizantes.