Imigrantes pagavam R$ 100 por “vacina que trata Covid” em farmácia de SP

Golpe desumano, que é crime sanitário, era aplicado sobretudo em estrangeiros, em sua maioria bolivianos, que têm direito a se imunizar no Brasil. O caso foi investigado e denunciado pela BBC

Foto: Google (Reprodução)
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Uma farmácia da Zona Norte de São Paulo cobrava R$ 100 de estrangeiros, principalmente bolivianos, por uma falsa vacina. A história macabra foi revelada pela BBC Brasil, a sucursal da agência estatal de jornalismo britânica no país.

Um repórter do veículo esteve no local, na Drogaria Diamante, disfarçado de cliente, e perguntou pelo suposto imunizante. No estabelecimento estavam várias pessoas, entre eles uma mulher grávida e uma idosa. Dias antes, um contato telefônico já havia sido feito com a farmácia, que confirmou aplicar uma “vacina para tratar Covid” (o que não existe), mas informando que mais detalhes só seriam dados presencialmente.

Um homem vestido um jaleco do Hospital do Mandaqui era quem atendia o público que procurava o estabelecimento para “se imunizar”, em sua maioria trabalhadores humildes de origem boliviana. Ele prescreveu um “tratamento” sem sentido ao repórter da BBC.

"Vou pôr um soro de antibiótico em você e vou colocar você no oxigênio. E dar a vacina para falta de ar, tá bom?", indicou o funcionário, que orientou o suposto cliente a voltar ao local, caso os sintomas relatados não passassem, para tomar um “soro com vitamina”, por R$ 250.

Questionado se aquele medicamento que seria aplicado era uma das vacinas aplicadas no Brasil, a CoronaVac, o homem de jaleco branco desconversou e deu uma resposta estapafúrdia "Não é vacina de CoronaVac, porque você nem pode tomar aquilo ainda", afirmou, argumentando que não era possível aplicá-la porque o jornalista disfarçado poderia ter "uma recaída, porque é vírus mortos que jogam em você", informa a reportagem.

Uma mulher de 35 anos, boliviana, que foi submetida ao falso tratamento no início de junho, precisou ser internada dias depois com diagnóstico de Covid-19 num hospital da região. Ela morreu 12 dias após se intubada, em 18 de julho.

O caso, antes da publicação, foi relatado ao Conselho Federal de Farmácia (CFF) e às polícias Civil e Militar de São Paulo, que realizaram uma operação no estabelecimento na tarde de segunda-feira (12). Os funcionários foram detidos e levados para prestar depoimento no Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania.