Impeachment por crime de irresponsabilidade

Bolsonaro já demonstrou, fartamente, sua incapacidade de governar. Inepto, ignorante, inescrupuloso, sem compreender os preceitos mínimos do cargo, precisa ser impedido

Jair Bolsonaro (Alan Santos/PR)
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Por Kerison Lopes*

As forças políticas de esquerda e progressistas titubearam até aqui em pedir o impeachment do presidente Bolsonaro. As explicações que ouvimos no nosso círculo é que ainda não haveria caracterizado nenhum “crime de responsabilidade”, que é um pressuposto constitucional para haver o impedimento de um presidente da República.

Concordando ou não com o compasso de espera seguido até aqui, depois do último fim de semana, ficou claramente caracterizado o “crime de irresponsabilidade” cometido por Bolsonaro. Possível transmissor do coronavírus, pois aguarda o resultado de um segundo exame, o inconsequente participou de uma manifestação pública, com contato físico com mais de duzentas pessoas. Na segunda-feira, repetiu o contato e o que é pior, deu entrevista minimizando a gravidade do novo vírus, defendendo suas inconsequentes ações e não apresentando nenhum plano de enfrentamento à doença.

Apesar de todas as maluquices feitas por Bolsonaro desde o início do mandato, ele contava com um apoio de grande parte do empresariado nacional. A economia nunca foi tão mal, o PIB nunca foi tão baixo e o dólar tão alto, mas o fato de o governo acabar com os direitos trabalhistas, previdenciários e com o patrimônio nacional serviu de senha para manter até aqui o apoio dos escravagistas empresários tupiniquins.

Até serem infectados, literalmente, pela política de morte de Bolsonaro. Isso mesmo, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) o mineiro Robson Andrade, e o presidente da FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais), Flávio Roscoe, estão infectados pelo coronavírus.

Os dois participaram de uma suicida comitiva liderada por Bolsonaro aos Estados Unidos na semana passada. Contra todas as recomendações sanitárias do mundo, viajaram para um país altamente propagador da doença. E trouxeram o risco para o Brasil. Da média de 200 pessoas portadoras do coronavírus no país, no mínimo 14 delas foram contaminadas na viagem de Bolsonaro. Ou seja, os representantes do empresariado nacional aderiram à necropolítica do presidente, de forma suicida.

Robson e Flávio devem estar confinados em casa pensando na aventura irresponsável que embarcaram. Poderiam ter acordado quando o presidente e o ministro Paulo Guedes matavam suas empresas, mas esperaram que matassem seus próprios donos.

A doença pode ter contaminado também o governador de Minas, Romeu Zema, outro inconsequente. Ontem ele suspendeu de última hora sua participação em uma coletiva de imprensa onde anunciaria, tardiamente, as ações do governo estadual pra combater a disseminação. Sem saber que ele era por si um fator disseminador. Por pouco não contaminava as dezenas de jornalistas que o esperavam em uma sala fechada. Zema até ontem mantinha mais de 15 mil servidores em risco na Cidade Administrativa, mostrando a mesma irresponsabilidade do presidente ao tratar da pandemia.

Por uma questão de vida ou morte, o Brasil tem que se ver livre de Bolsonaro. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que parece ainda ter um pouco de juízo, tem que abrir o processo de impeachment e o Congresso tem que aprovar uma licença compulsória de 180 dias. Se necessário, aprovar inclusive a imposição de uma junta psicológica para atestar a sanidade do presidente.

Bolsonaro já demonstrou, fartamente, sua incapacidade de governar. Inepto, ignorante, inescrupuloso, sem compreender os preceitos mínimos do cargo, precisa ser impedido. A rigor, já está acabado. O Congresso e o Poder Judiciário deveriam, desde já, a discutir o impedimento, antes que ele e os generais tentem uma aventura ditatorial, já pensada por eles.

Kerison Lopes é Presidente da Casa do Jornalista de Minas