Intelectuais franceses condenam o golpe no Brasil; leia a carta

Brasília - O presidente interino Michel Temer faz discurso durante cerimônia de posse aos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasill)
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"A prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil". O texto assinado por um grupo de intelectuais franceses diz que Dilma está sendo deposta por políticos diretamente ligados aos escândalos de corrupção da Lava Jato e que a direita brasileira está querendo implantar uma agenda conservadora e neoliberal, ameaçando os ganhos sociais recentes no continente Por Redação Um grupo de intelectuais franceses escreveu uma carta de apoio aos movimentos sociais e contra o golpe de Estado constitucional que está em curso no Brasil. O documento diz que o momento político atual é de extrema gravidade e que Dilma está sendo deposta por políticos diretamente ligados aos escândalos de corrupção da Lava Jato e que há um movimento comprometido em instalar uma agenda de extrema radicalização para "erradicar" o Partido dos Trabalhadores. Muitos dos intelectuais que assinaram a carta de repúdio são especialistas em estudos sobre a América Latina. Em um dos trechos do documento eles citam que "a prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil." "Essas novas formas de golpe de Estado sem o uso de armas se apoiam sobre uma classe política conservadora e neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos nos anos 2000 na América Latina, a direita e a extrema direita continuam sendo forças políticas poderosas", diz o texto. Leia a carta na íntegra: Contra o golpe de Estado constitucional, nós afirmamos o nosso apoio e a nossa solidariedade com a democracia e com os movimentos sociais brasileiros Os movimentos sociais brasileiros estão sendo diretamente atacados. Eles estão sujeitos a uma ofensiva política de grande amplitude que leva o Brasil a um extenso período de regressão democrática. Desde o início de maio, Dilma Rousseff, presidente eleita com 54 milhões de votos, foi afastada do poder pelas duas câmaras do Congresso Nacional. Parlamentares, deputados e senadores amplamente envolvidos em casos de corrupção, instauraram um processo de impeachment contra a presidente, acusando-a de irregularidades contábeis para camuflar o déficit nas contas públicas. Essa prática, rotineira de todos os governos brasileiros, não constitui nenhum dos crimes de responsabilidade previstos pela Constituição brasileira. É por esse motivo que os movimentos sociais, os sindicatos e todas as forças progressistas do país caracterizam a destituição de Dilma Rousseff como golpe de Estado institucional. A Operação Lava Jato, escândalo de corrupção ligado à empresa nacional de petróleo, Petrobras, envolvendo políticos brasileiros e construtoras no financiamento de campanhas eleitorais, indignou, merecidamente, o povo brasileiro. Todos os partidos políticos estavam envolvidos em tal operação, e os deputados de direita que lideraram a campanha contra a presidente estão dentre os mais comprometidos nesse escândalo. Se apoiando nas mobilizações populares, a direita avaliou que tinha chegado o momento de iniciar uma grande ofensiva para eliminar o Partido dos Trabalhadores (PT), cujas vitórias eleitorais eles nunca aceitaram. O processo de impeachment contra Dilma Rousseff contou com o apoio de poderosas igrejas evangélicas, que possuem grande influência dentro do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), assim como dentro de diversos outros partidos de direita menores, que juntos possuem a maioria em ambas as câmaras do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal). A prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil. Essas novas formas de golpe de Estado sem o uso de armas se apoiam sobre uma classe política conservadora e neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos nos anos 2000 na América Latina, a direita e a extrema direita continuam sendo forças políticas poderosas, capazes de mobilizar grandes grupos através do apoio dos meios de comunicação dominantes, que por sua vez são completamente controlados pelos conglomerados industriais e pelas oligarquias nacionais. Alguns chegam a pedir a abolição do programa social Bolsa Família e das medidas implementadas pelo PT para reduzir as desigualdades. O atual presidente interino, Michel Temer (líder do PMDB), já formou seu governo, composto unicamente por homens brancos, ricos e de meia-idade. Logo em seus primeiros dias, o governo de Temer aboliu o Ministério da Cultura e o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, e anunciou uma redução significativa nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS), equivalente à Seguridade Social na França. A direita brasileira está comprometida com uma agenda de extrema radicalização. Ela fala sobre a necessidade de "erradicar" o PT e, especialmente, os movimentos sociais que o apoiaram, tais como os sindicatos de trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mesmo que muitos deles critiquem a política econômica, social e ecológica conduzida pelo governo do PT, os movimentos sociais se opõem ao que é de fato um golpe de Estado constitucional. Sobretudo porque o eventual retorno da direita ao poder pode significar uma grande ofensiva contra as conquistas sociais, e provavelmente até mesmo a criminalização das dissidências e das ações sociais, práticas que eram a norma antes da eleição de Lula em 2002. Em apoio à democracia brasileira, afirmamos junto aos movimentos sociais brasileiros: "NÃO AO GOLPE, FORA TEMER!" Christophe Aguiton, Attac France Claire Angelini, artiste et cinéaste Christian Azaïs, LISE - CNRS / CNAM Geneviève Azam, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac Luc Boltanski, sociologue, directeur d’études à EHESS Pierre Beaudet, Université d’Ottawa Susana Bleil, sociologue, maître de conférence à l’université du Havre Stella Bierrenbach, artiste Erika Campelo, Autres Brésils Mathias Cassel aka Rockin’ Squat, chanteur Bernard Cassen, président d’honneur d’Attac, secrétaire général de Mémoire des luttes Henryane de Chaponay, CEDAL Jean-François Claverie, Observatoire des Changements en Amérique Latine Thomas Coutrot, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac Mazé Torquato Chotil, chercheuse et écrivaine Dr Fabien Cohen, chirurgien dentiste de santé publique, secrétaire général de France Amérique Latine Bernard Dreano, Assemblée européenne des citoyens Jean-Pierre Duret, réalisateur Marilza de Melo Foucher- docteur en Économie, journaliste et blogueuse Afrânio Raul Garcia Jr., antropologue, CESSP/EHESS Susan George, présidente du Transnational Institute François Gèze, éditions La Découverte Franck Gaudichaud, Président de France Amérique Latine, universitaire Jean-Marie Harribey, économiste, Université de Bordeaux. Jean-Jacques Kourliandsky, chercheur à Institut de Relations Internationales et Stratégiques (IRIS-Paris) Kamal Lahbib, Forum des alternatives Maroc Jean-Louis Laville, sociologue Frédéric Lebaron, sociologue, professeur à l’Université de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines Gustave Massiah, Cedetim/Ipam, membre du Conseil international du Forum social mondial Gilles Maréchal, Pacé, économiste, consultant Gérard Mauger, directeur de recherche émérite CNRS Patrice Pinell, directeur de recherche, CESSP Louis Pinto, sociologue Ignacio Ramonet, journaliste Le Monde Diplomatique Messaoud Romdhani, Forum Tunisien pour les Droits Économiques et Sociaux (FTDES) Pierre Salama, économiste, professeur émérite université Paris XIII Andrea Santana, réalisatrice Alexis Saludjian, professeur IE- UFRJ Glauber Aquiles Sezerino, sociologue, Autres Brésils Christophe Ventura, enseignant à l’Institut d’études européennes de Paris 8, Mémoire des luttes Patrick Viveret, philosophe, citoyen impliqué Freddy Vitorino, producteur Eric Toussaint, CADTM Célina Whitaker, Collectif Richesses