Internautas apontam que gabarito do Enem nega racismo ou dá como certas alternativas preconceituosas

Correção da prova provocou protestos em redes sociais, pedindo que haja revisão das respostas consideradas corretas

Primeira fase do Enem será neste domingo, 21. Reprodução
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A divulgação do gabarito das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nesta quarta-feira (27) levou internautas a protestarem em relação a questões nas quais as alternativas apontadas como corretas foram apontadas como preconceituosas ou ainda que negam a existência de racismo, em especial do estrutural ou do institucional.

O termo Inep, que é o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, responsável pela aplicação do exame, virou um dos mais comentados do Twitter nesta quarta-feira, em parte por causa desses protestos.

A editora Ivana Jenkings, dona da editora Boitempo, expôs a polêmica em seu Instagram. Na publicação, ela coloca fotos das duas questões contestadas. Escreve que “duas questões mereceriam reação coletiva”. E diz: “As respostas “corretas”, segundo o gabarito, são a D (questão 3) e a C (questão 6). Não é espantoso?”, seguido de um emoji de raiva.

Na questão 3, de inglês, é apresentado um trecho de um romance da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, com um diálogo entre uma cabeleireira e sua cliente. No excerto, a cabeleireira pergunta por que a cliente não faz alisa seu cabelo, por entender que ele é “difícil de pentear”. A cliente diz que gosta do cabelo “do jeito que Deus o fez” e segue argumentando para tentar "convencer outra mulher negra" a manter seus cabelos naturais.

Na pergunta, o exame diz que “o posicionamento da cliente é sustentado por argumentos que”, e seguem as alternativas. A considerada correta é a que diz “demonstram uma postura de imaturidade”.  Uma das alternativas, a C, traz a resposta “revelam uma atitude de resistência”. Quem conhece a obra de Chimamanda sabe que ela tem essa atitude em seus livros.

Nos comentários da publicação de Ivana, um de seus seguidores diz exatamente isso: “Mais absurdo ainda pelo fato de que há a resposta mais correta ("ato de resistência")”.

No Twitter, essa resposta também foi criticada.

https://twitter.com/joaoluizsb/status/1354539200008351754
https://twitter.com/_Felupe_/status/1354542667858849793
https://twitter.com/blxckgirls/status/1354533183203790852

Outra questão

A outra questão apontada por Ivana e pelos internautas como digna de protesto era de linguagens e interpretação de texto.

Nela, o texto dizia que uma universidade britânica tradicional desenvolveu um algoritmo para decidir quais candidatos a uma de suas vagas deveriam passar à fase de entrevistas. Esse algoritmo eliminava de cara candidatos por sexo ou origem racial, numa dedução baseada em nome ou local de nascimento. O excerto diz outra pesquisa 25 anos depois apontou que esse tipo de discriminação – a questão usa esse termo - ainda acontece. O exemplo é que, ao digitar no Google nomes comuns entre negros dos EUA, a chance de os anúncios oferecerem checagem de antecedentes criminais aumenta 25%. A pergunta diz que o texto permite “o desnudamento da sociedade ao relacionar as tecnologias da comunicação e da informação com”, e a alternativa apontada como correta era a C, que dizia “linguagem”. Mas a D trazia a resposta “preconceito”, que não foi considerada certa.

https://twitter.com/MuriloBarb/status/1354542874306768899

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