A divulgação do gabarito das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nesta quarta-feira (27) levou internautas a protestarem em relação a questões nas quais as alternativas apontadas como corretas foram apontadas como preconceituosas ou ainda que negam a existência de racismo, em especial do estrutural ou do institucional.
O termo Inep, que é o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, responsável pela aplicação do exame, virou um dos mais comentados do Twitter nesta quarta-feira, em parte por causa desses protestos.
A editora Ivana Jenkings, dona da editora Boitempo, expôs a polêmica em seu Instagram. Na publicação, ela coloca fotos das duas questões contestadas. Escreve que “duas questões mereceriam reação coletiva”. E diz: “As respostas “corretas”, segundo o gabarito, são a D (questão 3) e a C (questão 6). Não é espantoso?”, seguido de um emoji de raiva.
Na questão 3, de inglês, é apresentado um trecho de um romance da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, com um diálogo entre uma cabeleireira e sua cliente. No excerto, a cabeleireira pergunta por que a cliente não faz alisa seu cabelo, por entender que ele é “difícil de pentear”. A cliente diz que gosta do cabelo “do jeito que Deus o fez” e segue argumentando para tentar "convencer outra mulher negra" a manter seus cabelos naturais.
Na pergunta, o exame diz que “o posicionamento da cliente é sustentado por argumentos que”, e seguem as alternativas. A considerada correta é a que diz “demonstram uma postura de imaturidade”. Uma das alternativas, a C, traz a resposta “revelam uma atitude de resistência”. Quem conhece a obra de Chimamanda sabe que ela tem essa atitude em seus livros.
Nos comentários da publicação de Ivana, um de seus seguidores diz exatamente isso: “Mais absurdo ainda pelo fato de que há a resposta mais correta ("ato de resistência")”.
No Twitter, essa resposta também foi criticada.
Outra questão
A outra questão apontada por Ivana e pelos internautas como digna de protesto era de linguagens e interpretação de texto.
Nela, o texto dizia que uma universidade britânica tradicional desenvolveu um algoritmo para decidir quais candidatos a uma de suas vagas deveriam passar à fase de entrevistas. Esse algoritmo eliminava de cara candidatos por sexo ou origem racial, numa dedução baseada em nome ou local de nascimento. O excerto diz outra pesquisa 25 anos depois apontou que esse tipo de discriminação – a questão usa esse termo - ainda acontece. O exemplo é que, ao digitar no Google nomes comuns entre negros dos EUA, a chance de os anúncios oferecerem checagem de antecedentes criminais aumenta 25%. A pergunta diz que o texto permite “o desnudamento da sociedade ao relacionar as tecnologias da comunicação e da informação com”, e a alternativa apontada como correta era a C, que dizia “linguagem”. Mas a D trazia a resposta “preconceito”, que não foi considerada certa.