Isa Penna: Não tenho nenhuma ilusão de construir uma nova sociedade com o MBL

A deputada do PSOLexplicou à Fórum a sua ida ao ato pelo impeachment de Bolsonaro, que terá a participação do MBL e do Partido Novo: "É um exercício que a esquerda deveria praticar mais"

Foto: Deputada Isa Penna (ALESP)
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Acontece neste domingo (12), na cidade de São Paulo, uma manifestação que defende o impeachment do presidente Bolsonaro. Inicialmente convocada pelo Movimento Brasil Livre (MBL), o protesto começou a ganhar adesão de vários setores e de alguns partidos da centro-esquerda, tais como PDT e PCdoB.

Em rota contrária, o PT e o PSOL deliberaram a não participação dos atos deste domingo e convocaram novas manifestações para o dia 2 de outubro dentro da Campanha Nacional Fora Bolsonaro.

Porém, a deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) usou as suas redes sociais para revelar que iria participar do ato deste domingo e elencou uma série de pontos para explicar a sua decisão.

Em entrevista à Fórum, a parlamentar afirma que vai ao ato para conversar com as pessoas que estão no chão e não com aquelas do carro de som.

Outro ponto defendido por Isa Penna é a necessidade de se construir uma hegemonia do campo popular na sociedade. Questionamos se tal objetivo é possível com alguns grupos que estarão presentes na manifestação e que são contrários às bandeiras históricas da esquerda brasileira.

“Eu acho que não só é possível, como é necessário. Quem são as pessoas que vão estar no dia 12? Que não vão estar no carro de som? Quando a gente pensa em um ato, a primeira coisa que vem na cabeça são as pessoas que estão no carro de som, e eu estou pensando nas pessoas que caíram em alguma mentira que a direita contou sobre a esquerda. Eu estou pensando nas pessoas que caíram nessa lorota de que a culpa da corrupção é a existência de um Estado grande demais”, declarou a deputada.

Além disso, Penna afirma que vai à manifestação “pelas pessoas que acreditam que a esquerda é autoritária, porque ainda acreditam que a esquerda se resume ao stalinismo (Josef Stalin, líder da URSS de 1927 a 1953). Eu estou indo para romper a bolha, é para isso que eu estou indo”.

A mensagem da esquerda não está chegando na classe trabalhadora

Outro ponto analisado por Isa Penna é o fato de que a esquerda precisa fazer mais “esse exercício”, de tentar o diálogo com as pessoas que estão fora de sua esfera de influência.

“Me parece que a esquerda precisa fazer mais esse exercício. Qualquer canto de São Paulo que eu tenho ido para conversar com as pessoas, eu encontro pessoas de direita de todas as classes sociais. Tem alguma coisa de errado acontecendo com a nossa mensagem. O discurso da esquerda é o da igualdade, inclusivo, é o discurso contra a exclusão tanto do acesso a direitos quanto do acesso a valores, respeito, enfim… então, me parece que a gente tem que fazer mais esse exercício, que é antagônico às práticas populistas e o líder populista nunca pode errar, né?”

A parlamentar analisa a tradição populista ainda muito presente na esquerda brasileira: "As direções políticas da esquerda vêm dessa tradição: do Lula às direções do PSOL, elas vêm muito dessa tradição. E o populismo para mim tem um vício de origem, digamos assim, que nos deixa refém de uma pessoa, de um líder, o líder populista. E todas as experiências populistas, em especial na América Latina, têm essa característica, têm o líder, e uma vez que esse líder é o grande salvador da pátria, ele não pode errar, ele não pode ter a margem de erro e assim você nunca pede desculpa, e assim se faz impossível as críticas que são tão necessárias para a gente resgatar a confiança do povo”, diz Isa Penna.

MBL, Escola Sem Partido e as pautas anti-LGBT

Outro ponto que gerou críticas à deputada, mas também a outros políticos do campo progressista que vão participar do ato deste domingo, entre eles Orlando Silva (PCdoB) e Ciro Gomes (PDT), é o fato de que o MBL foi um dos grandes patrocinadores das teses do Escola Sem Partido que, no limite, querem retirar os debates sobre sexualidades das escolas e perseguem professores e pesquisadores que lidam com o tema.

Perguntamos para a deputada se não seria incômodo compartilhar o mesmo espaço com esses grupos. “Isso é conviver em sociedade, né? Então, tem um momento em que tirar o Bolsonaro significa não retroceder nos poucos direitos que nós temos e nesse sentido, essa emergência, essa necessidade, a caracterização do período que nós estamos: para mim supera qualquer rancor, porque nesse momento o inimigo é o Bolsonaro e o bolsonarismo”, afirma Isa Pena.

“Se eu tenho ilusão de construir uma nova sociedade com o MBL? Não, é óbvio que não. Eu sou atacada pelo MBL muito antes disso ser modinha. Não sou amiga de ninguém do MBL, inclusive faço questão de manter distância…, mas não é assim, não é com rancor, porque veja, se assim fosse, se a gente tivesse rancor das coisas que o governo Lula fez de ruim, a gente também não poderia apontá-lo como uma saída para 2022, mas muitos apontam”, questiona a deputada.