O anúncio da fusão entre Itaú e Unibanco preocupa os sindicatos de bancários. Quem explica é Carlos Cordeiro, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Para ele, o histórico de aquisições por parte do Itaú indica alto risco de demissão, porque as fusões são boas apenas para os bancos.
Cordeiro critica a concentração promovida e defende benefícios para a sociedade, com garantia de emprego para os funcionários e redução de juros e spread, o contrário do que representantes de bancos anunciam.
Leia a íntegra.
Fórum – Diante da fusão anunciada entre Itaú e Unibanco, alguns economistas falam que a notícia é boa para a economia. E para os funcionários das duas instituições?
Carlos Cordeiro – Historicamente, as conseqüências de uma fusão são muito trágicas para os trabalhadores, por haver muitas demissões. Principalmente em se tratando do banco Itaú, que comprou o Banerj, o Banestado, o Bemge. Desconfio que, atualmente, não se tenha mais 10% dos funcionários comparado ao que havia antes das aquisições.
O Itaú não mede esforços, se tiver que reduzir os postos de trabalho ele diminui. Até por esse histórico, a primeira preocupação é a garantia de emprego. Vamos ter uma negociação quarta ou quinta-feira desta semana.
Vamos dizer ao banco que, se esta fusão não tem nada a ver com a crise como está dizendo, uma grande demonstração seria garantir o emprego. Seria um voto de confiança tanto para os funcionários, que vão trabalhar com confiança, como também para a sociedade, que verá isso com bons olhos.
Mas também estamos preocupados com outras fusões que podem acontecer. Por isso, pedimos audiências com o CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] e com o Banco Central. Nos processos que ocorreram anteriormente de fusão no setor financeiro, não vimos nada de bom para a sociedade, só foi bom para os bancos que ampliaram seus lucros e rentabilidade. Hoje, com a rentabilidade que têm, a quatro anos os bancos adquirem outro banco. Os juros são os mais altos do mundo, as tarifas que correspondia a 30% da folha de pagamento, equivalem atualmente a 200%. Até hoje, os processos de fusão foram excelentes para os bancos. Queremos que seja bom para a sociedade também.
Fórum – O que tornaria um processo de fusão bom para a sociedade?
Cordeiro – No caso do sistema financeiro, primeiro, precisaria ampliar os pontos de atendimento para a população. O número de funcionários também precisaria ser ampliado, porque a qualidade de atendimento seria melhor. Outro ponto seria a redução de juros e de tarifas para algo não exorbitante como atualmente é, ao contrário do que Marcio Cypriano [presidente do Bradesco] falava ontem nos jornais que vai aumentar os juros. E, assim, que o Brasil deixasse de ser o campeão do spread.
Pelo histórico, sabemos que não vai acontecer. Justamente por isso estamos buscando mobilizar sindicatos de bancários e outras entidades parceiras, para denunciar esse abuso.
Fórum – Se spread e taxas de juros já eram elevados, isso piora com a concentração de mercado?
Cordeiro – Com certeza quanto mais concentrado pior. É isso que esta ocorrendo. Hoje, são aproximadamente 300 bancos do país, sendo que os 10 maiores detêm 75% dos ativos. Não só é concentrado, como existe um cartel. Um exemplo foi o esforço dos bancos para que não fossem enquadrados no Código de Defesa do Consumidor. Felizmente, graças à pressão da sociedade, os bancos precisam prestar contas à sociedade dentro desse código.
A fusão ela traz um problema sério. O Itaú passa a ser o maior banco do hemisfério Sul, mas acredito que outras fusões virão. O Bradesco não vai ficar olhando, e que este movimento tende a ampliar a velocidade das fusões. Daqui a pouco, haverá um monopólio mesmo. E isso nos preocupa muito, pois diante da fusão, a sociedade é quem vai pagar a conta com juros mais altos.
Fórum – A autorização dada pelo governo aos bancos de adquirir instituições menores pela Medida Provisória 443 tende a representar mais ameaça aos funcionários de bancos menores, eventualmente comprados por grupos maiores?
Cordeiro – Na teoria sim, porque se um banco grande incorpora um pequeno, imagina-se que a estrutura de economista, advogado, contador [vá sofrer cortes]. Até porque, os bancos menores não têm grandes redes de agências, a maior parte da estrutura é administrativa, justamente onde há o maior impacto. Mas é na teoria, porque na prática um banco menor pode ter know-how em um determinado segmento que o grande não tem, e quem perde o emprego são os funcionários da instituição maior. Por isso a Contraf não olha se é banco grande ou pequeno, se preocupa com todos. Em qualquer processo de fusão, é preciso ter garantia de emprego, como acontece em diversos países, especialmente os signatários da Convenção 158 da OIT [Organização Internacional do Trabalho]. As empresas só podem iniciar qualquer processo de reestruturação e demissão se for negociado com o sindicato. Infelizmente, não é o caso do Brasil, e os banco, por sua ganância, cortam na carne. A carne dos funcionários.
Fórum – Com as medidas do governo, o debate sobre a função do sistema financeiro vem à tona. Como o senhor vê a questão?
Cordeiro – Para a Contraf, o momento é importante para discutir o artigo 192 da Constituição. Os bancários propuseram, em 1992, um projeto ao Congresso para discutir o papel do crédito e a transparência do sistema. Isso seria garantido com fiscalização tanto por parte do Banco Central como da sociedade, seja pelo Congresso Nacional em uma comissão mista do parlamento, seja com a ampliação do Conselho Monetário Nacional com a participação dos trabalhadores. É um momento importante em que se discute a MP 443 para pautar o tema.
Itaú-Unibanco: Para ser bom, precisa garantir o emprego
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