Jornal Nacional exibe matéria de 21 minutos sobre “sessão mais tensa da CPI”

O telejornal da Rede Globo apresentou mensagens do celular de Luiz Paulo Dominghetti, que contradizem o depoimento de Roberto Dias, preso por crime de falso testemunho, por determinação de Omar Aziz

Roberto Dias recebeu voz de prisão - Foto: Agência Senado
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Em ampla reportagem com 21 minutos de duração, o Jornal Nacional desta quarta-feira (7) mostrou, com detalhes, a sessão, classificada pelo telejornal da Rede Globo, como “a mais tensa da CPI”. O destaque ficou para o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), que deu voz de prisão a Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, por crime de falso testemunho.

A matéria fez uma cronologia das mais de sete horas de depoimento de Dias. O ex-diretor do ministério foi convocado para explicar a respeito das acusações de que teria pedido propina de US$ 1 por dose de vacina em negociações, além de ter pressionado o servidor da pasta, Luis Ricardo Miranda, a agilizar a aquisição da Covaxin, vacina indiana contra a Covid-19.

O JN destacou que Aziz acusou Dias de ter mentido e omitido informações da CPI. Porém, o telejornal deu mais ênfase ao que provocou a prisão do ex-diretor do ministério.

Áudios do celular do cabo da PM de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti, que se diz representante de empresa de vacinas, sob posse de membros da CPI do Genocídio, e que foram reproduzidos na sessão desta quarta, provam que Dias mentiu ao dizer para os senadores que o jantar com o suposto vendedor de imunizantes foi “acidental”.

O ex-diretor de Logística afirmou aos senadores que não havia marcado o encontro com Dominguetti, e que estava apenas tomando um “chope casual” com um amigo [José Ricardo Santana, ex-servidor da Anvisa] em um restaurante de Brasília no dia 25 de fevereiro quando foi abordado por Dominguetti e pelo coronel Marcelo Blanco, ex-servidor da Saúde, com a oferta de 400 milhões de doses de vacina.

Mensagens de áudio do celular de Dominguetti, que prestou depoimento à CPI na última semana, no entanto, desmentiram a versão de Dias e mostraram que o ex-diretor já sabia do encontro para negociar as supostas doses – apesar de ter dito aos senadores que essa não era uma atribuição sua.

Um áudio de 23 de fevereiro [dois dias antes do encontro], enviado por Dominguetti a um interlocutor identificado como Rafael, dá conta da participação de Dias nas conversas sobre a aquisição dos supostos imunizantes.

“Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… e a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o ministério”, diz a mensagem.

No próprio dia 25 de fevereiro, data do encontro em que teria ocorrido o pedido de propina, Dominguetti recebeu um áudio de Odillon, apontado como o contato que o aproximou dos militares para “abrir as portas” do Ministério da Saúde, em que pergunta: “Queria ver se vocês combinaram alguma coisa para encontrar com o Dias”.

“Chacota”

O Jornal Nacional mostrou que, após a divulgação das mensagens, Aziz deu voz de prisão a Dias: “Tenho sido desrespeitado como presidente da CPI, ouvindo historinhas. As pessoas se preparam. Não aceito que a CPI vire chacota. Temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina. Ele está preso por mentir, por perjúrio”.

“Se eu estiver cometendo abuso de autoridade, que a advogada dele me processe. Nós não estamos aqui para brincar, para ouvir historinha de servidor que pedir propina. Ele que recorra na Justiça, mas ele está preso e a sessão está encerrada. Pode levar”, finalizou o presidente da CPI.

Ao final da reportagem, o JN destacou que o crime de falso testemunho prevê prisão de três a quatro anos, mais pagamento de multa. No entanto, é afiançável.