“Cristão, hétero e tradicional”: o privilégio da heterossexualidade no Brasil

Imagina um senador usando de seu foro privilegiado para afirmar que as pessoas heterossexuais só querem privilégios, que são pedófilas e que possuem tendência à promiscuidade e ao uso de substâncias ilícitas?

Escrito en OPINIÃO el

Nada contra a heterossexualidade, até tenho amigos que são. Mas sabe, todos os dias ter de ligar a televisão e ver aquele monte de gente se amando, se pegando, se beijando é um tanto cansativo e impositivo.

Me cansa também a quantidade de violência que permeiam as histórias heterossexuais. Sempre me pergunto: mas as coisas só podem ser resolvidas dessa maneira? Tiro e porrada? Sequestro? Humilhação? É esta a sociedade que dizem ser a "normal"? Me intriga.

Há um outro aspecto que também acho irritante: vez ou outra me deparo com pessoas bradando a heterossexualidade como um valor moral acima dos outros e pior, às vezes essas pessoas são representantes de religião: gritam e afirmam que as LGBT vão para o inferno, que são doentes, coisas desnecessárias desse tipo.

Recentemente duas notícias me deixaram perplexa: a primeira se deu em Brasília, quando um jornalista, no Dia dos Namorados, com uma grande coragem se declarou ao vivo para o seu companheiro, daí teve um empresário que repudiou e afirmou que aquilo deveria ficar restrito a quatro paredes.

Fiquei confusa: essas pessoas estão a todo momento dizendo que devemos amar uns aos outros, mas porque alguns podem exibir isso no bar, restaurante, metrô, nas ruas… Desconfio que isso seja ideológico.

Mas teve uma segunda notícia que também considerei contraditória: duas subcelebridades que, também no Dia dos Namorados, se vangloriaram de estarem juntos há 30 anos e ainda afirmaram serem "Cristãos, tradicionais e heterossexuais". Achei um tanto ideológico [2].

Fiquei com a impressão de que vivemos em uma sociedade profundamente mimada, que a todo momento fica impondo a heterossexualidade como modo de vida a ser seguido.

Aliás, que grupo privilegiado: a Constituição foi feita para eles, os estabelecimentos privados e púbicos foram pensados para eles, o sistema de Saúde é voltado para eles, não são chamados de doentes ou assassinados por se declararem "heterossexuais, cristãos e tradicionais".

É preciso colocar um breque nisso, a sociedade precisa de mais de equanimidade. Imagina você não poder adotar uma criança porque não é "hétero, cristão e tradicional", um absurdo completo.

Imagina um senador usando de seu foro privilegiado para afirmar que as héteras só querem privilégios, que são pedófilas e que possuem tendências à promiscuidade e ao uso de substâncias ilícitas? Pesado né?