Loja Farm é criticada por gordofobia

Vendedoras teriam dado risada de cliente obesa e se recusado a atendê-la; ao reclamar no Facebook da marca, a mãe da vítima teve comentário ‘ocultado’ e espera uma retratação pública.

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Vendedoras teriam dado risada de cliente obesa e se recusado a atendê-la; ao reclamar no Facebook da marca, a mãe da vítima teve comentário ‘ocultado’ e espera uma retratação pública Por Helô D'Angelo A publicitária Walquíria Poiano, 26, foi vítima de gordofobia na loja Farm do Shopping Iguatemi, em São Paulo. No último dia 29, ela foi com a mãe, a psicanalista Simone Ambrósio, 52, à unidade. A loja estava vazia, mas, assim que as duas entraram, todas as vendedoras - cerca de seis mulheres - teriam se dirigido para os fundos da loja, enquanto comentavam e davam risada. “Acho importante ressaltar que foram todas as vendedoras, e não apenas uma ou duas, porque isso revela muito sobre a política da Farm”, diz Simone. No Facebook da marca, a psicanalista fez uma reclamação denunciando o ocorrido. Em resposta, a Farm pediu que Simone mandasse um e-mail para a central de atendimento e ocultou o comentário - o que faz com que outros seguidores não possam ver a publicação. Revoltada, a irmã de Walquíria, Beatriz Poiano, 27, denunciou a atitude da marca e também reclamou na rede social: “Uma agressão ostensiva e pública, hostilização descarada, que [Walquíria] sofre sistematicamente só por ser gorda.” Até as 15h, o post de Beatriz já havia alcançado os 335 compartilhamentos na rede. Walquíria, que até então não havia se pronunciado, diz que a gordofobia de que foi vítima não se restringe apenas às lojas de roupa: “Nem sempre fui gorda, então foi fácil para mim perceber as diferenças de tratamento depois que ganhei peso. Você é ignorada, vítima de olhares maldosos, risadinhas e às vezes excluída. Isso acontece o tempo todo, em circunstâncias diferentes”. Segundo Simone, a marca entrou em contato com ela por telefone, tentando se retratar. “A atendente disse que já havia sido gorda e que, por isso, entendia muito bem. Ela me perguntou o que eu queria que ela fizesse, e eu fiquei surpresa que eles não tenham um plano para situações como essa. Eles precisam fazer uma retratação pública”. Em seu post, Beatriz chama atenção para o contraste entre o tratamento que a marca dá a seus clientes nas redes sociais e a realidade: “A Farm não economiza na fofura na comunicação, mas na hora do vamos ver, na hora de receber uma cliente com o mínimo de decência, a gente se depara com essa indigência”. Simone concorda, lembrando que em nenhum momento a loja respondeu publicamente dirigindo-se a ela ou a Walquíria: “Eles não têm o menor conhecimento do movimento das mulheres. É pura mascara comercial, uma máscara de fofura”. Em nota oficial, a Farm disse que “todos os nossos funcionários sabem que nenhum tipo de preconceito é aceito por nós, não faz parte do que vivemos no dia-a-dia e nem da nossa cultura”. Ainda segundo o comunicado, “o ocorrido será usado em toda empresa como uma oportunidade de reforçar esses valores, pois é algo que não aceitamos. Acreditamos que as redes sociais não sejam o melhor ou único ambiente para que essas questões sejam resolvidas de forma clara e humana com os envolvidos, por isso, entramos imediatamente em contato com a Simone por telefone para pedir desculpas e dizer que ela será sempre muito bem vinda em todas as nossas lojas." Não é a primeira vez que a marca se envolve em questões de preconceito. Em 2014, a Farm postou, em seu Instagram oficial, a foto de uma modelo branca vestida como Iemanjá, o que gerou revolta nos internautas. As três mulheres querem aproveitar o ocorrido para abrir os olhos da população para o preconceito contra pessoas gordas. “A princípio, senti vergonha e fiquei com medo. Mas depois percebi que era importante falar sobre isso e que eu não deveria deixar pra lá. Eu acho que tem sido algo muito positivo, estou recebendo muito carinho de outras mulheres que também sofrem e elas disseram que se sentiram gratas, pois têm vergonha de falar ou expor as situações. Então, entendi que isso é algo a ser incentivado. Se queremos ser ouvidas, precisamos falar”, conclui Walquíria.