Lula: “Os EUA precisam aprender que a boa política internacional é construída com base na parceria”

Em entrevista para a rede americana PBS, o ex-presidente elogiou a gestão de Biden, mas pontuou que o mundo é maior que a China e Rússia e que ele precisa olhar para a América Latina

Lula (Foto: Ricardo Stuckert)
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O ex-presidente Lula concedeu uma longa entrevista para a PBS, televisão de caráter público e educativo dos EUA, onde falou do combate à Covid-19 no Brasil, Bolsonaro, Trump e da necessidade de Joe Biden, o atual presidente dos EUA, se abrir mais para a América Latina.

"O problema da pandemia no Brasil e nos EUA quando Trump era presidente dos Estados Unidos, é que ela foi tratada com falta de responsabilidade e muito desprezo. Trump e Bolsonaro não respeitam a vida do povo. Não discutimos ciência. Não criamos um protocolo. Não reunimos os especialistas. Os cientistas no Brasil afundavam com um presidente sem responsabilidades. E agora ele está tentando compensar as perdas e danos", disse Lula.

Quando questionado sobre o que fazer no Brasil, Lula afirmou que será necessário adotar políticas semelhantes a de Biden. "Temos que garantir tudo o que for necessário para vacinar todas as pessoas no Brasil, continuar com a política de distanciamento social e evitar ao máximo as multidões. Temos que criar condições adequadas para a ajuda emergencial às pessoas, para que aqueles que estão desempregados possam comer. E temos que garantir um crédito especial, para que as pessoas continuem trabalhando em seus pequenos e médios negócios. Ou seja, temos que fazer o que Biden já fez nos EUA em sua última declaração sobre a economia. Temos que aumentar nossa base monetária, para que possamos dar condições de sobrevivência ao povo brasileiro", disse.

O ex-presidente também defendeu a quebra de patentes das vacinas contra a Covid. "Todos os líderes mundiais devem se reunir em sessão extraordinária, seja no G20, seja no G8, seja na ONU, para tomar uma decisão que rompam as patentes da vacina, para que sete bilhões de habitantes deste mundo tenham o direito de tomar sua vacina. E esta é a primeira coisa que eu recomendaria aos líderes mundiais. A segunda é que precisamos começar a discutir uma nova governança mundial. Ou seja, já está provado que, com a crise pandêmica que veio, os países não estavam prontos e cada um tentou encontrar uma solução individual. Não há saída individual para essa crise. Temos que tomar decisões que atingirão todos os países do mundo".

Para Lula, Bolsonaro isolou o Brasil do resto do mundo e isso explica a má vontade de algumas nações para ajudar o país. "O que aconteceu é que nosso presidente tomou a decisão de se tornar um líder desonesto. Ele não fala com ninguém. Ninguém quer falar com ele. Tornamo-nos um país desonesto. Então, o Brasil se isolou. Nenhum presidente ignorou o Brasil. Eu acredito que os países ricos, aqueles que participam do G20, do qual o Brasil faz parte, os países que participam do G8, eles têm que assumir responsabilidades. Os países mais ricos do mundo têm que ajudar os países mais pobres do mundo a obter a vacina".

Sobre uma possível candidatura nas eleições em 2022, Lula afirma que, se os partidos aprovarem e ele estiver com a saúde em ótimo estado, então, ele estará pronto para ser o candidato. "Não fui candidato em 2018 porque criaram uma farsa judicial. Não há nenhum processo judicial contra mim agora. E agora posso me candidatar à presidência. Agora, se, neste momento, eu tomar a decisão de que vou concorrer, se meu partido, meus aliados concordarem que eu teria 100 por cento de saúde, se estivesse 100 por cento saudável, então poderia concorrer, poderia ser um candidato. Mas quando chegar outubro do próximo ano, 2022, serei um ano mais novo que Joe Biden quando ele ganhou as eleições nos EUA. Portanto, estou pronto para ser candidato no próximo ano".

Lula afirma que Biden está fazendo um bom trabalho, mas que ele precisa olhar mais para a América Latina. "O Biden está fazendo um bom trabalho para os EUA. Acredito que ele tem que se abrir um pouco mais, porém, para a América Latina e América do Sul, porque os presidentes dos EUA, eles se esquecem da América Latina. E no passado, eles estavam muito mais preocupados com a Rússia. E então eles estavam muito mais preocupados com os terroristas. E agora eles estão muito mais preocupados com a China. É preciso lembrar e registrar que há mais gente do que China e Rússia no mundo, e que há muita gente que não é terrorista. Os EUA precisam aprender que a boa política internacional é construída com base na parceria. Os EUA precisam ser parceiros de seus aliados para ajudar. Os países pobres podem crescer. Economicamente falando, quanto mais os países pobres crescerem economicamente, melhor será para os EUA, porque os EUA vão crescer, a China vai crescer, a Alemanha vai crescer. É necessário compartilhar a riqueza", disse Lula.

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui ou assista abaixo:

https://twitter.com/LulaOficial/status/1393189013176176644

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