Manifesto do Cinema e Audiovisual pela Democracia já reúne mais de 2 mil assinaturas

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Luis Carlos Barreto, Anna Muylaert, Pablo Villaça, Wagner Moura, Leticia Sabatella e Matheus Natchergale estão entre os milhares de cineastas, roteiristas, atores, críticos e profissionais da área no Brasil e no exterior que se posicionam contra o impeachment da presidenta Dilma. "Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação", diz trecho do manifesto. Leia Por Redação Lançado na última quarta-feira (23), o manifesto "Cinema e Audiovisual pela Democracia" atingiu, neste sábado (26), a marca de mais de 2 mil assinaturas. Produzido de forma coletiva, com reuniões em diversas cidades brasileiras, o manifesto é um posicionamento de cineastas, roteiristas, atores, produtores, distribuidores, críticos, professores e todos os profissionais da área contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. "Nos manifestamos para defender a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Entendemos que nossa jovem democracia, duramente reconquistada após a ditadura militar, é o maior patrimônio de nossa sociedade. Sem ela, não teríamos obtido os avanços sociais, econômicos e culturais das últimas décadas", diz trecho do texto, que foi assinado por nomes de destaque do setor, como os produtores Luis Carlos Barreto e Sara Silveira, os cineastas Orlando Senna, Jorge Furtado e Anna Muylaert, os críticos Jean-Claude Bernadet e Pablo Villaça ou ainda atores como Wagner Moura, Gregorio Duvivier, Leticia Sabatella, Matheus Natchergale e Dira Paes. De acordo com a cineasta Dandara Ferreira, que contribuiu com a elaboração do manifesto - diferentemente do que foi noticiado pela Folha de S. Paulo, de que ela que teria "encabeçado" a ideia -, o documento foi produzido por dezenas de profissionais de todo o país e as assinaturas já chegaram às  27 unidades federativas e até mesmo a outros países, como Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Estados Unidos. No texto, os profissionais do cinema e do audiovisual criticam a falta de base jurídica no processo de impeachment, a arbitrariedade de setores da Justiça e expressaram "indignação diante de meios de comunicação que fomentam o açodamento ideológico e criminalizam a política". "Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação. Televisões, revistas e jornais, formadores de opinião, criaram uma obra distorcida, colaborando para aumentar a crise que o país atravessa, insuflando a sociedade e alimentando a ideia do impeachment com o objetivo de devolver o poder a seus aliados', escreveram. Confira abaixo a íntegra do manifesto. MANIFESTO: Cinema e Audiovisual pela Democracia Nós, cineastas, roteiristas, atores, produtores, distribuidores, críticos, professores, pesquisadores e técnicos do audiovisual brasileiro, nos manifestamos para defender a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Entendemos que nossa jovem democracia, duramente reconquistada após a ditadura militar, é o maior patrimônio de nossa sociedade. Sem ela, não teríamos obtido os avanços sociais, econômicos e culturais das últimas décadas. Sem ela, não haveria liberdade para expressarmos nossas distintas convicções, pensamentos e ideologias. Sem ela, não poderíamos denunciar o muito que falta para o país ser uma nação socialmente mais justa. Por isso, nos colocamos em alerta diante do grave momento que ora atravessamos, pois só a democracia plena garante a liberdade sem a qual nenhum povo pode se desenvolver e construir um mundo melhor. Como nutrimos diferentes preferências políticas ou partidárias, o que nos une aqui é a defesa da democracia e da legalidade, que deve ser igual para todos. Somos frontalmente contra qualquer forma de corrupção e aplaudimos o esforço para eliminar práticas corruptas em todos os níveis das relações profissionais, empresariais e pessoais. Nesse sentido, denunciamos aqui o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica e provas concretas, levado a cabo por um Congresso contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição, a começar pelo presidente da casa, o deputado federal Eduardo Cunha. Manifestamos a nossa indignação diante das arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo. Da mesma forma, expressamos indignação diante de meios de comunicação que fomentam o açodamento ideológico e criminalizam a política. Estas atitudes colocam em xeque a convivência, o respeito à diferença e a paz social. Repudiamos a deturpação das funções do Ministério Público, com a violação sistemática de garantias individuais, prisões preventivas, conduções coercitivas, delações premiadas forçadas, grampos e vazamentos de conversas íntimas, reconhecidas como ilegais por membros do próprio STF. Repudiamos a contaminação da justiça pela política, quando esta desequilibra sua balança a favor de partidos ou interesses de classes ou grupos sociais. Nos posicionamos firmemente a favor do estado de direito e do respeito à Constituição Brasileira de 1988. Somos contrários à irracionalidade, ao ódio de classe e à intolerância. Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação. Televisões, revistas e jornais, formadores de opinião, criaram uma obra distorcida, colaborando para aumentar a crise que o país atravessa, insuflando a sociedade e alimentando a ideia do impeachment com o objetivo de devolver o poder a seus aliados. Tal agenda envolve desqualificar as empresas nacionais estratégicas, entre as quais se insere a emergente indústria do audiovisual. Por todos esses motivos, nos sentimos no dever de denunciar essa enganosa narrativa e de alertar nossos pares do audiovisual em outros países sobre este assombroso momento que vivemos. Usaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição para impedir um retrocesso em nossa frágil democracia.