Manobras eleitorais da ditadura boliviana comprovam tentativa de se perpetuar no poder

Estratégia consiste em dois processos paralelos, um para tentar caçar a candidatura do candidato progressista Luis Arce e outro cujo objetivo é colocar o MAS, de partido de Evo Morales, na ilegalidade

A autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez - Foto: Reprodução
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Após um golpe de Estado e um processo de “transição democrática” cujas eleições já tiveram dois adiamentos, a Bolívia se encontra diante do desafio de garantir que as eleições que viram sejam limpas.

Para saber se será ou não assim, a questão principal estará ligada aos dois processos judiciais iniciados nesta semana, que buscam atacar o partido e o candidato que são os favoritos segundo as pesquisas.

Na semana passada, o TSE (Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia) acusou o partido MAS (Movimento Ao Socialismo) de responsabilidade pela suposta fraude eleitoral nas eleições de outubro de 2019 – que foi vencida por Evo Morales, candidato da legenda. Se a Justiça der sentença favorável à denúncia, o partido poderia ser declarado ilegal e não participaria do pleito.

O curioso da denúncia é que ela aconteceu duas semanas após um estudo de especialistas estadunidenses publicado no New York Times, mostrando que o relatório da OEA (Organização dos Estados Americanos) que teoricamente comprovaria a fraude possui diversos erros e inconsistências, e não prova fraude nenhuma. Aliás, foi o terceiro informe que apontou o mesmo resultado, depois de um publicado em dezembro de 2019, e outro de março de 2020.

Nesta semana, uma nova ação foi apresentada, desta vez por um órgão diretamente ligado ao poder executivo, liderado pela ditadora Jeanine Áñez – imposta pelas Forças Armadas após o golpe de Estado de novembro de 2019.

Desta vez, se trata da Gestora Pública de Seguridade Social, que acusa o candidato Luis Arce, que foi ministro da Fazenda do governo de Morales, de ser responsável por um suposto superfaturamento na compra de um software para administrar programas sociais do governo. Neste caso, o processo pode render cassação da candidatura de Arce e sua prisão por corrupção.

Arce lidera as pesquisas eleitorais para as eleições presidenciais, com 37% das intenções de voto, e poderia ser eleito no primeiro turno, se superar os 40% e impor uma diferença de mais de 10 pontos sobre o segundo colocado – que atualmente é Carlos Mesa, com 25%. Além disso, a ditadora Áñez aparece com 20%, e não parece capaz de sair do terceiro lugar.

Em entrevista para meios locais, Arce acusa o governo de querer se perpetuar no poder. “Estamos vendo um governo que saber que não poderá vencer nas urnas, porque está perdendo a batalha contra o coronavírus, os trabalhadores estão perdendo seus empregos e voltando a sentir fome, então tenta apelar para moldar o cenário eleitoral de acordo com seus interesses”, afirmou o candidato.

As eleições na Bolívia estão marcadas para o dia 6 de setembro.