Marcio Pochmann: "Não haverá crescimento em 2022 e país vive quadro depressivo"

Em entrevista à Fórum, o economista também afirma que atualmente o Brasil vive um momento de “desinvestimento e fuga de empresas”

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Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (6), o economista Marcio Pochmann (Unicamp) fez uma análise sobre o cenário econômico para o ano de 2022 e afirmou que o Brasil vive um período de desinvestimento e fuga de empresas. Além disso, Pochmann também destaca o fato de que o mercado financeiro errou todas as previsões ao longo de 2021.

“Acho que a gente começa o ano mais realista. Se a gente olhar o boletim Focus, que é a análise que o Banco Central (BC) faz conjuntamente com o mercado financeiro, eles erraram tudo durante o ano de 2021. Não acertaram a variação do Produto Interno Bruto (PIB), que até agora o IBGE não divulgou, mas as indicações estão diferentes daquelas que haviam sido diagnosticadas no início do ano passado. A inflação está muito distante, quase três vezes maior do que havia sido estimado”, critica Pochmann.

O economista também é taxativo e afirma que não haverá crescimento econômico neste ano. “Agora as expectativas estão mais próximas da realidade: não haverá crescimento econômico nesse ano e teremos, infelizmente, uma inflação que pode até ter uma trajetória mais alta dependendo do comportamento, ao que parece não vai ser alterado, dos chamados macro preços”, analisa.

Famílias endividadas

O quadro de piora da economia e elevação da taxa de juros, segundo Pochmann, afeta direta a economia familiar e, consequentemente, leva a um maior endividamento das famílias.



“Nós ainda estamos em uma trajetória de elevação da taxa de juros, ela tem impacto nos custos de quem está endividado. E no caso do Brasil, nós estamos falando de mais 70% de famílias que estão endividadas, portanto, qualquer aumento da taxa de juros tem impacto na disponibilidade de renda das famílias, assim como obviamente nas empresas”, pontua.

Além disso, “essa trajetória de elevação da taxa de juros desincentiva qualquer vontade empresarial de ampliar os negócios porque não há uma perspectiva de melhora. E a formação de preços vinculados a energia, o combustível possivelmente não vai ser alterada. Nós vamos continuar prisioneiros dos preços internacionais e podemos ter, de fato, um problema sério de inflação no Brasil”.

Desinvestimento e fuga de empresas

As empresas também devem enfrentar um ano de piora em suas economias. “É um ano ruim do ponto de vista econômico, da economia das famílias, das empresas porque o ambiente não oferece, digamos assim, uma perspectiva que pudesse ser alterada, já indicada pelo IBGE que nos colocou numa recessão técnica: ou seja, nós tivemos uma recuperação no início do ano passado, mas essa recuperação não teve fôlego e nós estabilizamos em um patamar muito baixo”, diz Pochmann.

Outro fato que Marcio Pochmann colocou durante a entrevista é fato de que o PIB per capita não apresenta crescimento desde 2014. “Isso é uma análise conjuntural muito pontual, mas a gente não pode ficar somente nela porque a última vez que o país que teve crescimento do PIB per capita foi em 2013. Ou seja, de 2014 para cá o país não cresce. É um período de decrescimento econômico, eu diria que o Brasil está vivendo um quadro depressivo”, avalia.

“Por que depressivo? Porque não se trata apenas da redução da capacidade do nível de produção, mas também uma redução de sua capacidade de produzir. Uma coisa é: o Brasil pode produzir 100, sua capacidade, suas máquinas estão preparadas para produzir 100, mas não produziu 100 porque não há consumo. Produziu 70, 60. Esse declínio é a recessão, reduz o nível de atividade”, assegura.

Por fim, Pochmann explica que a capacidade de “produção depende do investimento ou do desinvestimento. E o que nós estamos tendo nesse período é uma situação de desinvestimento porque há fechamento de empresas em maior número do que abertura, e uma fuga do Brasil de grandes empresas. Não é só a Ford, mais de 30 empresas saíram do Brasil. Então, reduz a capacidade de produção e isso dá um quadro dramático depressivo. Se você me pergunta 'o que vai predominar no debate eleitora?', eu não sei lhe dizer, mas que a economia continua a ser uma questão chave para qualquer governo, certamente no caso brasileiro é algo inquestionável”.

Confira a seguir a entrevista na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=c5XBrQlhNM0