MC Mayara: "Feminismo para mim é ser livre acima de tudo"

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Por Jarid Arraes Com mais de 300 mil pessoas acompanhando seu trabalho pelas redes sociais, a MC Mayara é uma figura querida pelas feministas e pessoas LGBT. A funkeira, que viralizou na internet pela primeira vez em 2012, hoje usa sua página no Facebook também como forma de compartilhar suas ideias e "teorias". Entre trechos de suas músicas e frases de efeito, ela faz questão de publicar mensagens contra o machismo, a homofobia e o racismo. Mas apesar de se interessar por assuntos relevantes e buscar informação de qualidade sobre temas atuais, Mayara sofre muito preconceito - especialmente de grupos que hostilizam seu estilo musical e não gostam dos seus temas sexuais. "Mesmo que se faça [o funk] direcionado para um propósito, sempre vão achar que é musica baixa; e na verdade o funk é um grito que vem da classe menos favorecida, porque é uma música eletrônica de vila, é barata para se produzir e uma arma poderosa contra muitos. E a sexualidade é uma coisa que já nasce com a gente e está aí sempre, só que o preconceito e os julgamentos das pessoas são falso moralismo. Todo mundo sabe, todo mundo vê, mas ninguém que ficar comentado", afirma a MC. [caption id="attachment_438" align="alignleft" width="300"] "Teoria da Branca de Neve: por que só ter um se eu posso ter sete?" - uma das músicas da MC.[/caption] Embora não se considere exatamente feminista, Mayara conta que sempre foi independente e conheceu o Feminismo ao observar as mulheres e meninas à sua volta. "Com isso resolvi usar o funk para protestar e firmar o feminismo e a liberdade não só sexual, mas também mostrar que mulher é ser humano e tem os mesmos direitos que qualquer um tem. Como também luto contra qualquer preconceito, seja de raça, de liberação sexual, classe social". Ela não faz vista grossa para o machismo que existe nas letras e atitudes de muitos artistas do funk; para ela, alguns "tratam muito a mulher como objeto, não todos, mas tem mulheres também que gostam de ser tratadas assim. Como quero um mundo livre, não acho certo nem errado por elas e eles. Na minha realidade, eu enfrento isso nas minhas composições e atitudes pela vida". Quem acompanha sua carreira pode constatar que a MC Mayara realmente enfrenta o machismo - a atitude empoderada que adotou quando sofreu críticas por continuar dançando funk quando estava grávida é uma evidência disso. Em uma sociedade que idealiza a maternidade e censura o comportamento sexual das mães, a funkeira teve autonomia e fez aquilo que desejava. "Eu fui a primeira MC a ter coragem de gravar um clipe grávida, mas fiz isso para mostrar que gravidez não é doença. Tem mulher que fica cheia de frescura e tal, eu além de fazer clipe, fiz show até o meu oitavo mês". As mudanças que a maternidade trouxe em sua vida, no entanto, reforçam seu desejo de fazer a diferença no mundo: "Hoje o que realmente exige mais de mim é que a vontade de mudar e transformar o mundo em uma coisa melhor dobrou, porque quero isso para a Manu [sua filha]".  (No vídeo "Ela sabe rebolar", MC Mayara dança grávida enquanto canta: "Mulher é tudo gostosa, poderosa, é rainha. (...) Meus amores, os tempos mudaram, agora estamos mais atualizadas. Mamãe, sua filhinha inocente cresceu e ficou safada".) [caption id="attachment_439" align="alignright" width="300"] Imagem compartilhada por Mayara no Facebook.[/caption] Mayara conta que já educa sua filha com base em seus pensamentos libertários, que são facilmente identificados em sua página no Facebook. Recentemente, ela apoiou o protesto de mulheres negras contra estereótipos racistas na televisão e também manifestou indignação contra o presidenciável Levy Fidelix, que fez declarações homofóbicas ao vivo durante um debate entre candidatos. "Eu me acho alguém que teve a sorte de fazer músicas e pegar, e tentar com isso fazer com que o mundo seja mais livre, com pessoas de mente aberta, porque uso a minhas redes sociais não só para falar de feminismo, mas pra tentar motivar as pessoas a se reconhecerem como elas realmente são", explica. "Luto contra o preconceito, quero um lugar onde a minha filha possa ser o que ela quiser e como quiser sem julgamentos. E feminismo para mim é ser livre acima de tudo pra poder fazer o que bem entender da minha vida". Mesmo que não se considere uma militante, MC Mayara se posiciona e levanta a voz quando acha necessário - algo que significa muito em uma cultura de omissão. Animada com os projetos que tem desenvolvido, a MC pede que seus fãs aguardem as novidades que está preparando, sempre lembrando de seu papel social e também pioneiro no meio artístico que escolheu: "Tenho muitos projetos, estou lutando pra realizá-los e com muita paciência e dedicação eu chego lá. Eu tento inovar em várias coisas que faço. Fui a primeira funkeira a fazer um clipe em plano sequência (Mereço Muito Mais), a primeira a ter um aplicativo para smartphone e também a primeira a gravar um clipe grávida (Ela Sabe Rebolar). Enfim, aguardem que tem muito mais da MC Mayara por vir!". Foto de capa: Divulgação