Miliciano Adriano da Nóbrega tinha celular exclusivo para contato com assessores de Flávio Bolsonaro

O método de contato, o chamado ponto-a-ponto e que visa dificultar interceptação da polícia, já havia sido identificado pela investigação sobre as “rachadinhas” conduzida pelo MP-RJ

Flávio Bolsonaro - Foto: Reprodução
Escrito en BRASIL el

Investigação que cobre o período de fuga do miliciano Adriano da Nóbrega aponta que seus familiares tinham celulares exclusivos para manter contato com ele. Isso confirma o método de contato apontado (ponto-a-ponto) pelo Ministério Público do Rio de Janeiro entre pessoas ligadas ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o miliciano.

As interceptações telefônicas revelam que Adriano exigiu que todos seguissem o método de ponto-a-ponto, na qual os seus comparsas mantinham aparelhos exclusivos para entrar em contato com ele. O objetivo deste método é evitar que o telefone usado para essas conversas fosse identificado em contato com outro membro da quadrilha. Além disso, a troca do número de celular era feita de maneira constante por todos, para assim fugir do monitoramento das autoridades.

De acordo com a investigação sobre o caso das "rachadinhas", Márcia Aguiar, esposa de Fabrício Queiroz e ex-assessora de Flávio, e Luiz Botto Maia, advogado e também ex-assessor do senador, foram até o interior de Minas Gerais se encontrar com Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano e também ex-funcionária de Flávio, filho do presidente Jair Bolsonaro.

Mensagens interceptadas do celular de Márcia indicam que o objetivo do encontro era estabelecer contato com Adriano, que estava em fuga. Também sugerem que Júlia Lotuffo, namorada do miliciano, também esteve presente no encontro. Esse foi um dos argumentos para a prisão de Queiroz, que está revogada.

Cabe lembrar que Adriano Nóbrega era amigo e foi companheiro de batalhão de Queiroz, amigo do presidente Jair Bolsonaro e apontado como o operador financeiro da "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio, quando o senador era deputado estadual.

Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, uma das responsáveis por organizar o contato e distribuir celulares era Júlia, que atualmente era considerada foragida e apontada pelo MP-RJ como a gestora dos bens e dinheiro do miliciano Adriano Nóbrega.

As escutas não flagraram conversas de Raimunda com Adriano ou com pessoas ligadas ao senador. Porém, indicam que o método de contato com o miliciano descrito pelo MP-RJ na investigação da "rachadinha" era de fato utilizado pela família de Nóbrega.

Uma das evidências apontadas pela Polícia Civil é um diálogo da irmã de Adriano, Tatiana Magalhães da Nóbrega com outro alvo da investigação onde ela diz que precisa levar "o telefone" até a mãe, no interior de Minas Gerais, para que ela pudesse conversar com o filho.

Em outra conversa, a irmã do miliciano revela estar com cinco celulares, que a polícia desconfia serem aparelhos destinados ao contato com o miliciano.

Daniela Magalhães da Nóbrega, outra irmã de Adriano, diz em uma conversa telefônica que receberia a visita de um coronel da PM interessado em pedir dinheiro emprestado para Adriano. O diálogo indica que ela estabeleceria o contato por meio de um dos telefones.

A investigação grampeou dezenas de telefones entre junho de 2019 e fevereiro de 2020 com o objetivo de identificar os celulares que faziam contato com Adriano, mas, a busca só conseguiu coletar a evidência da técnica ponto-a-ponto, mas sem conseguir revelar os seus números.

A história do miliciano Adriano da Nóbrega tem relação direta com a de Flávio Bolsonaro: em 2003, o então deputado estadual homenageou Nóbrega na Assembleia Legislativa; dois anos depois, quando o miliciano já estava preso preventivamente acusado de ter matado um guardador de carros, Flávio Bolsonaro o condecorou com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio.

Em 2007 a ex-mulher e a mãe de Adriano da Nóbrega foram trabalhar no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia, sendo que a nomeação foi feita por Queiroz. O MP-RJ afirma que as duas eram funcionárias fantasmas e ambas foram denunciadas junto com o senador.

A quebra de sigilo bancário do caso das "rachadinhas", que foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), indica que parte do dinheiro arrecadado com o esquema era repassado ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro e passava por contas geridas pelo miliciano. Além disso, conversas entre Adriano e sua ex-mulher, que foram interceptadas, apontam que parte do valor recebido também beneficiava o ex-capitão.

Com informações da Folha de S. Paulo