Modelo Google: uma alternativa para a indústria dos jornais?

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General Motors e a Local Motors são duas empresas automobilísticas norte-americanas, mas as semelhanças param aí. A GM é uma mega corporação que fabrica veículos em massa e que acaba de pedir concordata. A LM, é infinitamente menor, foi criada em 2006 por sete engenheiros e é a primeira do mundo a adotar o modelo Google de negócios no setor automobilístico.

Jeff Jarvis, um respeitado consultor de mídia, professor e blogueiro norte-americano, acha que os donos de jornais do mundo inteiro deveriam examinar com lupa a fórmula da Local Motors porque ela poderia ser servir de ponto de partida para uma nova estratégia corporativa para um segmento industrial que também está vivendo momentos críticos.

A LM está aplicando os oito princípios que fizeram da Google a maior empresa do mundo no ramo das novas tecnologias e que hoje começam a seduzir os executivos que há três anos eram unânimes em taxar de inviável o transplante do modelo para o mundo industrial.

Os princípios são:

a) Produção colaborativa – os compradores de carros da LM participam da elaboração do design e das especificações técnicas junto com os engenheiros. O resultado é a personalização do veículo. Os clientes acabam fazendo um remix de componentes de veículos de outras marcas;

b) Propriedade comunitária – os clientes tornam-se membros da cooperativa que dirige montadora e com isto logram reduzir o preço do veiculo encomendado.

c) Micro-empresa – a produção de veículos, na conjuntura atual, só é lucrativa se for feita em fábricas enxutas com burocracia interna reduzida ao mínimo, sistema operacional descentralizado e funcionários polivalentes. A falência da mastodôntica GM, com mais de 90 mil funcionários (1/3 dos quais em funções burocráticas) passou a ser um exemplo da falência do velho modelo de linha de montagem, numa estrutura hierarquizada e centralizada;

d) Produção para nichos de consumidores – A LM vai produzir carros diferentes para públicos segmentados. Atualmente a empresa desenvolve um veiculo para o estado do Arizona e outro totalmente diferente para Nova Iorque. Ume rústico para terrenos ruins e outro é pequeno e super econômico para ser usado num trânsito complicado;

e) Montagem – Os veículos são montados usando quase 90% de componentes de outros carros e os modelos podem ser montados por outras empresas. Não há franquia. É o carro no sistema do código aberto, sem pagamento de royalties;

f) Negócio público – As informações de usuários são essenciais para o futuro do negócio, porque os clientes e compradores sentem-se participantes no processo de montagem de veículos;

g) Produção local – Por enquanto a empresa está instalada numa única cidade, mas o modelo pode ser replicado noutras regiões mantendo a regra da identificação com o publico e com a realidade local;

h) Venda direta – O modelo elimina intermediários, no caso concessionárias e revendas, substituídos pela internet nas vendas e atendimento aos compradores.

Jarvis acha que todos estes itens podem ser facilmente adaptados para a realidade da indústria dos jornais, levando em conta que muitos sites independentes de noticias já os aplicam total ou parcialmente.

Um dos exemplos mais badalados desta nova tendência é o projeto ChicagoNow, que está sendo desenvolvido por um grupo de jornalistas do jornal Chicago Tribune, um dos principais atingidos pela queda de leitores e de anúncios. O ChicagoNow aplica pelo menos seis itens do modelo Google adaptados para o ambiente jornalístico.

O projeto está apoiado em notícias publicadas em blogs criados por leitores dentro da página do ChicagoNow. Em média 30% deste material vai para a edição impressa depois de ser avaliado por leitores e por editores do jornal. Mais ou menos o mesmo processo está sendo implantado no Philadelphia Inquirer que acaba de jogar a toalha em sua edição em papel para ser publicado apenas na Web.

Ainda é muito cedo para dizer se o modelo Google terá na indústria dos jornais, os mesmos resultados obtidos pela Local Motors. Mas se depender do pessoal do ChicagoNow, a aposta vale a pena porque a outra opção é o desemprego.

Publicado originalmente no Observatório da Imprensa.