Mulheres que abortam sentem mais alívio do que culpa, mostra estudo

A maioria apresentou uma mistura de sentimentos nos primeiros dias que sucederam o procedimento, mas depois de 2 anos o alívio foi se tornando o sentimento majoritário sobre a decisão

Manifestação pela descriminalização do aborto no Rio de Janeiro (Fotos Públicas)
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A Anis Bioética publicou nesta quarta (22) um estudo da Universidade da Califórnia, em São Francisco, mostrando que 95% das pessoas que decidem interromper uma gestação acreditam que tomaram a decisão correta e relatam alívio nos anos após o procedimento. Segundo o instituto, a pesquisa acompanhou 667 mulheres de 21 estados dos Estados Unidos, durante cinco anos. Os pesquisadores perguntavam a elas se sentiam tristeza, culpa, alívio, arrependimento, raiva ou felicidade em relação à escolha. A maioria apresentou uma mistura de sentimentos nos primeiros dias que sucederam o procedimento, mas depois de 2 anos o alívio foi se tornando o sentimento majoritário sobre a decisão. Mulheres e outras pessoas que podem engravidar (como homens trans e pessoas não binárias) levam em conta diversos fatores ao decidir interromper ou prosseguir com uma gravidez não-planejada. Dinheiro para criar o rebento, a divisão da responsabilidade, as consequências e o impacto na vida profissional, condições psicológicas e o próprio desejo de colocar ou não uma pessoa no mundo influenciam na tomada de decisão. Isso, claro, em países onde a interrupção da gravidez é legal. Em lugares como Brasil, onde o tabu e a criminalização do aborto não permitem que as pessoas que engravidam possam tomar essa decisão, os números não são menores: estima-se que ocorram cerca de 500 mil de abortos por ano; como sempre, as mulheres mais vulneráveis, negras e periféricas que não tem condições de pagar um procedimento caro (um aborto medicamentoso custa cerca de 600 reais, enquanto nas clínicas clandestinas o preço começa em cinco mil reais). 88% dessas mulheres têm religião e 67% já tem filhos. 56% são católicas. Se todas as mulheres fossem punidas pela lei atual, teríamos hoje 3 milhões de famílias que ficariam sem mães, ou cujas mães teriam passado pela prisão em algum momento da vida, de acordo com o relatório sobre aborto apresentado em 2018 ao STF. Uma em cada 5 brasileiras até 40 anos já realizou o procedimento. Mesmo em casos onde a legislação brasileira permite o aborto, ou seja, em caso de estupro ou de risco de vida da gestante, é difícil realizar o procedimento devido a burocracias e moralismo nem tão velado das instituições envolvidas. O trauma não vem do aborto, e sim, da proibição e do tabu que o cercam.