Mulheres exploram o Semi-Árido sem destruir a caatinga

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No Sítio Macaúba, Sertão cearense, a caatinga vale mais em pé do que na forma de lenha ou carvão. O lugar, a 30 minutos de carro de Barbalha, no Cariri, abriga uma comunidade de mulheres que recolhem cocos de palmeiras e sementes de árvores. Elas fazem óleo de babaçu e bijuterias vendidas em feiras de artesanato e na Budega, uma loja do Aeroporto de Petrolina (PE) que segue o conceito de comércio justo e solidário. “Sem a caatinga não temos a matéria-prima dos nossos produtos”, diz a artesã Maria Betânia Coelho, 27 anos.

As mulheres chamam de biojóias as pulseiras, brincos e colares. O conjunto com três peças custa de R$ 10 a R$ 15. “São tesouros que criamos a partir da natureza”, justifica o nome dado aos produtos. As contas vermelhas com pintas pretas são do mulungu (árvore), as todas vermelhas, do olho-de-pombo (árvore), as cremes, da batata-de-pulga (arbusto), e as pretas, do sabonete (arbusto). O arranjo costuma ser arrematado por uma peça maior, redonda e com furos no meio. Trata-se de lâminas do coco de babaçu, cortadas depois de extraídas as amêndoas para a fabricação de óleo.

O óleo de babaçu, palmeira típica da região, é usado tanto no preparo de alimentos quanto na medicina natural. “A gente usa como antiinflamatório. Massageia a parte do corpo onde tá doendo e logo melhora”, afirma a funcionária pública municipal aposentada Fargilda de Souza Carvalho, 48. Ela é uma das 65 integrantes da Associação das Mulheres Rurais do Sítio Macaúba, criada em 2005 com apoio do GEF Caatinga, projeto do Ministério do Meio Ambiente apoiado pelo Global Environment Facility (GEF), fundo do Banco Mundial (Bird) destinado ao meio ambiente.

A extração do babaçu é feita pela comunidade, com 238 famílias, há pelo menos três gerações mas só agora as mulheres deixaram de usar pedra para quebrar o coco. “Eu nunca me machuquei, mas vi muita gente se cortar e até quebrar o dedo”, conta Fargilda. “Com a máquina não teve mais acidente.” Além de tecnologia, o GEF Caatinga capacitou a comunidade a diversificar a produção. Sabonete de óleo de babaçu e jogo americano feito de lâminas do coco-de-babaçu são alguns dos novos produtos.

Uma prensa hidráulica ajuda a extrair o óleo do babaçu, antes macerado num pilão e cozinhado num caldeirão com água. “Agora a gente tritura numa forrageira e depois espreme na prensa. O coco não tem mais contato com a água e isso resulta num óleo mais puro”, descreve Maria Betânia Coelho. Apesar das novas tecnologias, a extração de babaçu continua um trabalho árduo. As mulheres coletam um milheiro do coco para produzir seis litros de óleo. O litro é vendido a R$ 7.

(Matéria originalmente publicada no Jornal do Commércio)