“Na mala só a viagem” – Tiago Araripe de volta em quatro excelentes canções

“Na Mala só a viagem” é um título que conta tudo e, como é do feitio do compositor, logo após ouvi-lo nos faz esperar, mais uma vez, a sua volta. Imperdível

Capa do EP de Tiago Araripe "Na Mala só a Viagem"
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O cantor e compositor Tiago Araripe se notabilizou na década de 80 por lançar, em meio ao grande surto de criatividade da propalada vanguarda paulistana, o lindo disco “Cabelos de Sansão”. Sem sombra de dúvidas um grande feito, ou seja, chamar a atenção no meio de tanta gente boa como Arribo Barnabé, Grupo Rumo, Itamar Assumpção e muitos mais. [caption id="attachment_127012" align="alignnone" width="359"] O cantor e compositor Tiago Araripe. Foto: Divulgação[/caption] Tiago se aquietou por três décadas, até ser descoberto em um sebo por Zeca Baleiro, em 2008. A história curiosamente lembra o texto que abre a canção “Clara Crocodilo”, de Arrigo Barnabé. Posto isto, teve o seu “Cabelos de Sansão” relançado e, em 2013, gravou um novo e excelente álbum de inéditas, o também lindo “Baião de Nós”. Dentro do seu próprio tempo, há léguas de distância da vida de um pop star, mas repleto de qualidade, Tiago nos fez esperar mais cinco anos pra lançar o EP “Na Mala só a Viagem”. Uma verdadeira sacanagem com seus fãs e admiradores. Cinco anos para um pequeno EP com quatro canções? Mas, tudo bem. Valeu a espera. Com o selo de qualidade e inventividade que caracterizam a sua obra, o novo EP de Tiago transborda mais uma vez em talento. Com ideias simples mínimas, o compositor encanta mais uma vez com a sua mistura de sons e palavras construídas com requinte e maestria. “Bem aqui” que abre o EP é uma canção poderosa que relata o lugar não geográfico onde todos estamos. Com um riff roqueiro e a melodia que lembra de leve um mantra, a canção nos envolve em misturas sonoras oriente/ocidente: “Aqui estamos nós e não estamos sós, existe uma luz a nos guiar/Aqui existe paz e tudo o que nos traz, do alto essa voz a nos falar/ Aqui eu sou capaz de ir além”. Quando estamos quase a perder o fôlego, Tiago apronta mais uma das suas lindas canções de amor: “Perder alguém não é assim como perder o trem” – não precisava mais nada, mas ele prossegue: “Perder o voo para mais além, perder alguma coisa que se tem, um bilhete premiado, compras no armazém”. A forma coloquial da canção “Perder Alguém” navega tranquila na linda melodia, uma aparente balada pop que, como de costume em suas composições, se enche de surpresas à medida em que caminha. Se em “Bem aqui”, Tiago tratava do espaço, em “Das Horas” cuida do tempo. Com estrutura semelhante, segue com melodia e letra em tom de conversa ao pé do ouvido, prosa que tranquiliza e avisa, com a ótima participação da cantora Isadora Melo: “Hora de seguir pela sombra sol a pino, Hora de entrar na chuva pra se molhar, hora de abrir a janela pra ver o luar”. O rock and roll, influência seminal do compositor, na quase canção título “De Passagem”, completa o percurso do tempo e espaço com o ir e vir, o andar errante: “Estou aqui só de passagem, na mala só a viagem/Eu vou, mas voltarei, não será tarde/Cada estação, nova bagagem/O vento vem, pra soprar os seus cabelos e assobiar por entre as telhas/O vento vem, não precisa de asa, vem casar com o céu e as estrelas”. As lindas histórias de Tiago Araripe foram produzidas por Juliano Holanda e contaram com uma excelente banda que tem como base a velha formação baixo, guitarra e bateria e algumas participações aqui e acolá, tudo muito simples, inventivo e definitivo. “Na Mala só a viagem” é um título que conta tudo e, como é do feitio do compositor, logo após ouvi-lo nos faz esperar, mais uma vez, a sua volta. Imperdível