"Não existe documentário imparcial": Pablo Villaça comenta indicações do Oscar e defende Democracia em Vertigem

O crítico de cinema comentou sobre as indicações do Oscar, a Netflix e as principais apostas para a premiação que revelou nesta segunda-feira os finalistas

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O crítico de cinema Pablo Villaça, do Cinema em Cena, participou de entrevista ao vivo no canal da Fórum nesta segunda-feira (13) comentado sobre as indicações do Oscar de 2020, com destaque especial para o documentário "Democracia em Vertigem", da cineasta brasileira Petra Costa. Acostumado a fazer previsões sobre o Oscar, Villaça não colocou o filme de Costa entre os finalistas de Melhor Documentário. Ele justificou a decisão pela especificidade do tema e a falta de dinheiro da produção de Petra Costa para fazer campanha na Academia. "É uma história muito particular. Quando a gente fala de um golpe parlamentar é difícil até para a gente explicar. E eu não imaginei que fosse ter uma campanha lá. E Oscar é campanha e o 'Democracia em Vertigem' não tem dinheiro para fazer campanha. Por sorte isso não prejudicou", declarou. "O fato dele ser político é uma inevitabilidade", declarou ainda Villaça, dizendo que "não existe documentário imparcial" porque sempre se impõe um ponto de vista, o do idealizador. https://youtu.be/7nDKXI91tFc Questionado se uma possível vitória de Democracia em Vertigem pode mudar a atuação do governo Bolsonaro na questão da cultura, o crítico disse não ver vantagens na atual conjuntura. "Se tem uma coisa que define os bolsonaristas e a extrema-direita é a aversão à cultura. Porque a cultura estimula o exercício da empatia. Eu acho que isso vai acirrar ainda mais a vontade do governo brasileiro de dificultar a vida dos cineastas", afirmou em tom pessimista. Villaça crê também que uma vitória no Oscar não é determinante porque representa muito mais a indústria do cinema. "O Brasil esse ano teve um ano sensacional", citando as vitórias de Bacurau e Vida Invisível no Festival de Cannes. Netflix Grande crítico da Netflix, Villaça ainda afirmou que enxerga os streamings como uma forma de democratizar o cinema. "A Netflix e o streaming de modo geral ajudam a democratizar o cinema. Cinema é caro. Não dá para falar que ir ao cinema é acessível", afirmou. "A Netflix desestimula as pessoas procurarem coisas que não estejam dentro dela. Ela tem um catálogo muito pobre. Não é interessante para a Netflix, por exemplo, ter filmes antigos, porque ela fica na mão dos estúdios. Isso é um problema", pontuou ainda. Ele ainda afirmou que há diversos serviços similares que contribuem para a diversificação da Netflix, citando o Petra Belas Artes, os sites Mobi.com e CineLivre.Net. "Existem alternativas cada vez maiores de competição à Netflix", declarou. "Não quero que a Netflix acabe, quero que ela se diversifique", completou. Representatividade Villaça ainda comentou sobre a questão da representatividade na Academia. Questionado sobre a ausência de atores negros e diretoras mulheres, ele afirmou que a questão tem mais a ver com o pré-Oscar e com a questão estrutural da indústria e das premiações anteriores. "Chega no Oscar e já se fala em quatro atrizes brancas tidas como certas e uma última vaga sendo disputada por atrizes negras e asiáticas", criticou. Apostas "Se o Oscar fosse hoje, o momento é o do 1917. O Coringa eu ficaria surpreso se fosse o Melhor Filme", afirmou. Ele ainda citou as vitórias de Joaquim Phoenix (Melhor Ator), Renee Zellweger (Melhor Atriz) e Brad Pitt (Melhor Ator Coadjuvante) como certas. "Eu ficaria muito feliz se O Irlandês ganhasse melhor filme, melhor diretor, mas se a Netflix quiser que ele ganhe, vai precisar fazer muita campanha", acrescentou.