'Não vou esperar f. minha família toda de sacanagem', disse Bolsonaro em reunião

Trecho de transcrição do encontro foi entregue pela AGU ao Supremo, que investiga interferência do presidente na Polícia Federal

Bolsonaro e filhos. Foto: Reprodução/FlickrCréditos: Flickr/Bolsonaro
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O presidente Jair Bolsonaro afirmou na reunião ministerial de 22 de abril, segundo transcrição feita pela Advocacia-Geral da União (AGU), que não iria esperar "f." alguém de sua família ou amigo dele, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", disse o presidente.

A transcrição foi entregue nesta quinta-feira (14) pela AGU ao Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga a acusação do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que Bolsonaro buscou interferir na Polícia Federal.

A AGU destacou apenas os trechos da reunião que, segundo o órgão, têm relação com o inquérito. O argumento da AGU, responsável pela defesa do presidente, é que Bolsonaro se referia à segurança pessoal dele e de familiares, sem relação com a atuação da PF.

Moro tem rebatido a versão, uma vez que foi ameaçado de demissão por Bolsonaro e a PF é de responsabilidade do ministério que ele ocupava na ocasião. A segurança do presidente e de seus familiares é gerida pelo Gabinete de Segurança Institucional, do ministro Augusto Heleno.

Mais cedo, em live nesta quinta, Bolsonaro afirmou que a AGU vai liberar trechos da reunião. “Vocês vão cair do cavalo”, disse o presidente. 

O presidente também diz, segundo a transcrição, que não pode ser “surpreendido com notícias” e se queixa de órgãos vinculados à segurança do país. Ao contrário do que tem declarado nos últimos dias, ele menciona sim a PF.

“Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não tem informações; a Abin tem seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento etc. A gente não pode viver sem informação”, disse.

O presidente chega a usar a expressão "vou interferir", mas nega que é um exagero.

"É uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, completou Bolsonaro, segundo a transcrição.