Nassif: O tempo político de Dilma está prestes a esgotar

No Planalto se alimenta a esperança de que, passado o ajuste fiscal, possa avançar a agenda positiva. Mas há um problema de “timing”. Se a presidenta não antecipar ações concretas de aproximação com os diversos segmentos sociais, econômicos, acadêmicos para começar a desenhar um plano de governo minimamente factível, não vai chegar até lá

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No Planalto se alimenta a esperança de que, passado o ajuste fiscal, possa avançar a agenda positiva. Mas há um problema de “timing”. Se a presidenta não antecipar ações concretas de aproximação com os diversos segmentos sociais, econômicos, acadêmicos para começar a desenhar um plano de governo minimamente factível, não vai chegar até lá Por Luis Nassif, no Jornal GGN O cenário político que se tem atualmente é o seguinte: 1 - Estrangulamento gradativo de todas as ações de governo, ainda que à custa do comprometimento da economia. MPF (Ministério Público Federal) e Lava Jato se empenham em desmontar a cadeia produtiva de petróleo e gás. O TCU (Tribunal de Contas da União) mira suas armas nas hidrelétricas da Amazônia. O Congresso fuzila o ajuste fiscal. O torniquete continuará apertando enquanto o governo não recuperar legitimidade. 2 - Polícia Federal e MPF impondo um cerco severo a todas as atividades do PT e de seus candidatos e o TCU ameaçando rejeitar as contas de Dilma. Esse cerco continuará aumentando. 3 - Ampliação da recessão e do desemprego, agravados pela política monetária do Banco Central. Não há sinais de arrefecimento no horizonte. Vai piorar muito, antes de melhorar. 4 - Incapacidade da presidente de articular um conjunto mínimo de propostas que se assemelhe a um programa de governo, de recriar algum sonho na opinião pública. *** No momento, o quadro é de dispersão ampla do conjunto de forças que, de alguma maneira, apoiaria Dilma. Em entrevista ao Washington Post, Dilma endossou as ações da PF. Na planície, Lula começa a preparar estratégias de imagem que o descolem do governo Dilma e do PT. E o PT trata de reforçar seus princípios, distanciando-se do governo Dilma. *** Paradoxalmente, há um amplo espectro de forças disponível na sociedade, à procura de uma alternativa contra a frente heterogênea, confluência de ódio, preconceito e uma gana tão ampla de destruir empresas que alguém, no meu Blog, taxou a esse movimento de ofensiva do país improdutivo contra o país que produz. *** Em que pese a crise e a desesperança, há uma enorme energia pronta para vir à tona, quando se resolver o nó político. O país acumulou um enorme acervo de conceitos, organizações, empresas, estruturas. Hoje em dia, há grupos organizados e conceitos claros sobre políticas industrial, de inovação, há uma experiência acumulada no mercado de capitais, nas parcerias público-privadas, nos programas de gestão, na organização de modelos de atendimentos às pequenas e micro empresas. As políticas sociais estão no estado da arte, tanto no setor público quanto nas organizações privadas, e a nova economia e nova sociedade estão formando uma nova geração de empreendedores e militantes digitais com um perfil totalmente distinto da geração de seus pais. Nas universidades, acumula-se um conhecimento amplo sobre uma extensa variedade de temas de desenvolvimento, da geografia das médias cidades ao modelo urbano das metrópoles. Tudo isso confere à crise atual sua verdadeira dimensão: é uma crise política. *** No Planalto se alimenta a esperança de que, passado o ajuste fiscal, possa avançar a agenda positiva, provavelmente sob a batuta do Ministro do Planejamento Nelson Barbosa. Mas há um problema de “timing”. Se a presidente não antecipar ações concretas de aproximação com os diversos segmentos sociais, econômicos, acadêmicos para começar a desenhar um plano de governo minimamente factível, não vai chegar até lá. Seu tempo político encurtou drasticamente. Ou mostra agora alguma capacidade de iniciativa e começa a desenhar a fundo seu segundo governo agora, ou não chegará ao final do ano. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil