Nassif: O xadrez do The House of Cards

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É impossível saber os vencedores dessa disputa. Seja qual for o resultado, haverá uma grande noite caótica pela frente, um atraso histórico nos avanços sociais e econômicos e uma ameaça direta à democracia e à economia Por Luis Nassif, no Jornal GGN O que seria o dia seguinte ao impeachment? O jogo não está decidido. Nenhum dos dois lados conseguiu o número mínimo para apregoar vitória. Mas vale como exercício. Não é necessário muita imaginação para supor. O novo jogo teria os seguintes personagens:
  1. O novo governo, controlando o Executivo e o Congresso..
  2. O Supremo Tribunal Federal
  3. O Procurador Geral da República/Lava Jato
  4. A mídia
  5. A frente anti-impeachment
  6. A frente pró-impeachment.
Vamos a um pequeno exercício de fórmulas para ver como eles se interagem.

Consolidação do poder

No dia seguinte à tomada do poder, a estratégia do novo grupo será a consolidação definitiva do poder. Assume em uma posição precária, ilegítima, tendo atrás de si a Lava Jato e a desconfiança geral e à frente às eleições de 2018. Suas armas são temíveis: controle do Executivo e do Congresso, das leis e da caneta. Usarão como puderem para enfrentar as seguintes frentes:
  • Lava Jato.
  • Crise econômica.
  • Eleições de 2018, logo ali.
A estratégia de sobrevivência contemplará algumas linhas básicas visando estender o poder conquistado.:
  1. Ampliação do arco de alianças.
O Congresso será utilizado para a aprovação de leis de interesse dos grandes grupos.  O balcão de negócios será transformado em um hipermercado. O maior negócio será a alteração na lei do petróleo. Mas há uma enorme agenda a ser manobrada por Eduardo Cunha, inclusive como forma de consolidar o golpe. Aí se entra em um campo em que ele é senhor absoluto, o grande especialista em negócios do Congresso. Obviamente todas essas faturas impactarão o orçamento e a política econômica.
  1. Mudanças estruturais que permitam a consolidação do poder.
O grupo não tomará o poder para entregá-lo em 2018. É evidente. A consolidação do poder passará por mudanças políticas que excluam o voto direto para presidente, talvez com a introdução do parlamentarismo, podendo chegar ao adiamento das eleições de 2018.
  1. Enquadramento do Ministério Público Federal e da Lava Jato.
Ou alguém tem dúvida de qual foi a moeda de troca com o PP? Tentarão se valer da euforia com o fim do governo para tomar medidas que restrinjam o poder do MPF. O Executivo tem a chave do cofre. O Congresso, a chave das leis e das nomeações e destituições de Ministros do Supremo. Em vez de um governo ingênuo e desarmado, o MPF e a Polícia Federal enfrentarão agora o poder de fato, nas mãos de uma organização que sabe manobrar as ferramentas do poder, e que estará travando uma guerra de vida ou morte, já que a derrota implicará até em sua prisão.
  1. Administração de uma economia em crise.
O orçamento é um só. Numa ponta, será pressionado pelas demandas do grupo. Na outra, exigirá aumento de tributos, uma CPMF. Só que a base de apoio do grupo são lideranças empresariais que agitaram o país nos últimos anos levantando a bandeira da redução de impostos. O caminho óbvio será o dos cortes nas áreas sociais, programas sociais, educação, saúde, ampliando ainda mais a revolta das ruas em um quadro de aprofundamento da crise.

A busca do inimigo interno

Em um primeiro momento, haverá uma falsa euforia do mercado, com valorização de ativos e queda do dólar. Durará pouco. É uma crise de demanda que não será resolvida pela mera melhoria do índice Bovespa, ainda mais tendo em conta o custo da fatura para a montagem de alianças. Haverá uma ampliação geométrica das manifestações de rua. Como superar o quadro de crise econômica + falta de legitimidade + manifestações de rua? Nem é preciso ser um grande visionário para perceber o lance seguinte: o macarthismo. Além da ilegitimidade original, o novo governo ampliará as reações dos movimentos sociais com os cortes de políticas sociais. A reação das ruas fornecerá o  alibi  do inimigo interno e O novo governo se escudará cada vez mais na ultradireita da opinião pública e nas bancadas religiosas. A ameaça bolivariana e a dissolução moral são os elos que unem tudo, a ultradireita na rua, os jovens turcos do Ministério Público, o conservadorismo do Judiciário e  a classe média, os grupos religiosos.

Os desdobramentos

É impossível saber os vencedores dessa disputa. Seja qual for o resultado, haverá uma grande noite caótica pela frente, um atraso histórico nos avanços sociais e econômicos e uma ameaça direta à democracia e à economia. Não fosse o custo a ser pago pelo país, especialmente pelos mais vulneráveis, seria uma boa lição a esses aprendizes de feiticeiro que resolveram abrir a caixa de Pandora e colocar em risco a democracia apenas para exercitar os músculos. Fotomontagem: Jornal GGN