No bloco pelo impeachment deve caber todos os que são contra Bolsonaro, diz especialista

Professor de ciência política avalia que cabe às forças progressistas lutar para que a aglutinação não resulte em avanços neoliberais e na criminalização de suas bandeiras, sem vetos na largada

Foto: Lula Marques
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A crescente pressão pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vista nos últimos dias precisa continuar para que o processo seja deflagrado. Nesse cenário todas as manifestações pelo impeachment são necessárias e oportunas.

A avaliação é de William Nozaki, professor de ciência política da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), em entrevista à Fórum. Para ele, não haverá impeachment sem ampla mobilização social e popular da sociedade civil organizada e não-organizada. Atualmente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem 62 pedidos engavetados.

 “O impeachment é um processo social, político e jurídico”, afirmou. “Do ponto de vista jurídico há inúmeras evidências de que o presidente tem cometido crimes de responsabilidade, mas como ainda dispõe de base social e apoio parlamentar os processos seguem engavetados”, disse o especialista. Mas, neste momento, com o fim do auxílio emergencial, a crise da vacina contra a Covid-19 e o avanço da pandemia, a aprovação do governo e do presidente devem sofrer uma queda relevante, avalia. Para ele, esses fatores devem trazer à tona novamente a possibilidade de interrupção do mandato.

Neste final de semana, há carreatas convocadas para pedir o impeachment de Bolsonaro em várias cidades do país. Há movimentos programados para este sábado (23), organizado por movimentos sociais, entidades sindicais e partidos de oposição. Já no domingo (24), movimentos que pediram o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, como o Vem Pra Rua e o MBL, pretendem fazer seu protesto, agora pela saída de Bolsonaro, que ajudaram a eleger.

Nozaki avalia que “o fato de as próximas manifestações estarem sendo convocadas também por ex-bolsonaristas é sinal de que o clima de cansaço e indignação está se ampliando”. E, para ele, é importante que esse sentimento continue se difundindo.  

“No bloco pró-democracia devem caber todos aqueles que são contra Bolsonaro”, afirma o professor da FESPSP. O cientista político diz que cabe à esquerda lutar para que essa aglutinação “não desague apenas em avanços neoliberais e na criminalização de bandeiras progressistas”. “Mas essa luta se trava no calor dos acontecimentos e não com vetos a priori”, alerta. “O coro pelo impeachment deve ser engrossado por todas as forças sociais e políticas que tem compromisso com os valores democráticos, à direita e à esquerda.”

O professor diz que há a possibilidade de parte da esquerda se retraia de antemão pelo fato de que uma parte da direita também vai sair às ruas pedindo impeachment. E, por isso, analisa que as forças progressistas terão que saber ombrear com os adversários neoliberais para poder enfrentar o “inimigo maior neoconservador”.

Apoio no Congresso

Atualmente, Bolsonaro tem apoio de uma parte expressiva dos parlamentares, do chamado Centrão, que ainda garante a quantidade de votos necessária para que um processo de impeachment não seja deflagrado. “Acreditando que o presidente seria funcional para as reformas liberais os partidos de centro e de direita trataram Bolsonaro como uma gripezinha aceitável”, disse Nozaki. Mas, agora, eles estão “ diante de uma epidemia de incompetência e negacionismo”.

Nesse sentido, o cientista político avalia que a pressão popular pode “alterar o barômetro dos parlamentares, criando o ambiente para a deflagração institucional do impeachment”. No entanto, ele alerta: o jogo está sendo jogado e nenhuma hipótese deve ser descartada.

“Estamos em um momento relevante da conjuntura política exatamente porque ele pode indicar o caminho que seguiremos nos próximos anos”, declarou Nozaki. “A sociedade pode reagir ativamente pela via do impeachment ou pode seguir passivamente prostrada em anomia”, concluiu.

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