No Roda Viva, especialista em vírus critica Bolsonaro e diz que ele vai contra o que o mundo inteiro está fazendo

Atila Iamarino alerta que Brasil tem muitas metrópoles com potencial para repetir os cenários graves do norte da Itália e de Wuhan (China). Segundo ele, só Bolsonaro e a Bielorrússia negam perigo do coronavírus

O biólogo Atila Iamarino (Reprodução)Créditos: Reprodução de Vídeo
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O biólogo Atila Iamarino voltou a defender a necessidade de isolamento para evitar o impacto do coronavírus no Brasil. Em entrevista hoje no Roda Vida, da TV Cultura, o especialista em vírus elogiou as medidas tomadas pelos governadores estaduais e, questionado, criticou a postura de Jair Bolsonaro, que tem minimizado a gravidade da pandemia.

“A gente depende de que ações estão sendo tomadas. O estados todos pararam a circulação, colocaram as pessoas em quarentena, restringiram comércio. Eu sinto que a gente está em um momento em que a casa está pegando fogo, a gente quer tirar todo mundo de casa para não perder ninguém e não importa quem acendeu o fogo, se o bombeiro é de direita ou de esquerda. Estão tomando ações para fazer isso? Está ótimo. Se estiver atrapalhando o que os Estados estão fazendo, está atrapalhando o que o mundo inteiro está fazendo. Se os Estados estiverem agindo independente, se torna irrelevante”, afirmou o biólogo.

Segundo Iamarino, a atitude de Bolsonaro de trabalhar contra o isolamento e minimizar a gravidade da Covid-19 “vai contra tudo que todos os líderes mundiais estão fazendo”. “Eu só conheço um que diz que Covid não é nada e não está tomando ações contra que é a Bielorrússia. Lá a recomendação é sauna três vezes por semana e lavar a mão com vodka. Não, não resolve.”

Doutor em microbiologia pela USP, com pós-doutorado em Yale, o biólogo tem chamado atenção nas redes sociais com conteúdos técnicos e embasados sobre o coronavírus. Uma de suas publicações mais comentadas foi a previsão de que R$ 1 milhão de brasileiros podem morrer sem medidas de isolamento e encerramento das atividades, semelhante ao projetado pelo estudo do Imerial College de Londres, que utiliza o mesmo modelo.

“A situação na China é Wuhan. Na Itália, é a Lomabardia. Aqui no Brasil nós temos o potencial de cada cidade virar uma Lombardia ou uma Wuhan da vida, se não for monitorado. Mesmo em um único estado, como São Paulo, existem muitas metrópoles que podem passar por um problema parecido”, alertou Iamarino, durante a entrevista.

O especialista ressaltou a necessidade de se fazer mais testes e o rastreio das pessoas. Questionado sobre se o clima mais quente reduz a propagação, ele explicou que é uma possibilidade, mas não é algo que está completamente comprovado e os planos de ação dos governos não devem trabalhar contando com a sorte.

Iamarino destacou ainda que o Brasil tem outros problemas em comparação com a Itália e a China. Embora a população brasileira seja mais jovem, ela não é tão jovem assim e há um alto índice de hipertensão e diabete, com muitos casos não tratados ou acompanhados por conta da pobreza, além de tuberculose.

“E o Brasil tem um agravante que nenhum modelo epidemiológico prevê: como o vírus se espalha na favela. Não têm modelos para prever como isso acontece. A gente pode prever que vai ser maior porque não tem como separar as pessoas nos ambientes.”

O especialista alerta que todos os dados indicam que um aumento exponencial de casos pode comprometer o sistema hospitalar e faz disparar as mortes, não só por Covid-19, mas por falta de atendimento adequado para outras doenças, o que já ocorre em outros países.