O bolsonarismo elegeu uma bancada às minhas custas, diz Jean Wyllys

O ex-deputado avalia ainda que Sergio Moro agora é atacado pela rede de mentiras que ele mesmo protegeu e da qual foi cúmplice

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O ex-deputado federal do PSOL Jean Wyllys afirmou nesta terça-feira (28) que o bolsonarismo elegeu uma bancada as suas custas, se valendo de mentiras sobre ele em seus discursos, como uma espécie de projeto piloto do gabinete de ódio. Wyllys foi o convidado do Fórum Debate.

Exilado político no exterior depois de receber ameaças de mortes, ele deu entrevista via internet, direto de Boston (EUA), onde ministra aulas na Universidade Harvard como professor convidado. Nesta semana, ele voltou a alvo de narrativas falsas divulgadas por deputados bolsonaristas e por um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro nas redes sociais.

“Eles não vão me esquecer. Não foi por acaso que eu fui escolhido para ser o modelo de como destruir uma reputação. Eu sou um homem gay, orgulhoso da minha homosexualidade, sou um ativista dos direitos humanos, de LGBT, negros e pobres, e defendo pautas de difícil compreensão e alvo de muito preconceito”, explicou Wyllys.

“Isso serviu para que e uma série de mentiras fossem construídas contra mim e eu fosse utilizado por canalhas em todo o país para se eleger, para se cafifar politicamente. O PSL elegeu uma bancada de escroques com base em fake news, com base em mentiras contra mim, em mentiras que deturpavam a minha agenda.”

Trampolim político

Ele considera que o bolsonarismo utilizou o como trampolim político.

“O PSL elegeu uma bancada de pessoas, que, em diferentes lugares do Brasil, me usavam como contraponto. Ou seja, usam as mentiras contra mim como um controponto”, resumiu.

Wyllys lembra que é atacado até em casos em que não está envolvido, como o Vazo Jato. Quando o The Intercept Brasil revelou irregularidades na operação cometida contra o ex-presidente Lula, a rede bolsonarista circulou a acusação sem fundamento de que Wyllys deixou o país porque vendeu o seu mandato para o fundador do site, o jornalista Glenn Greenwald, e seu marido, David Miranda. Miranda assumiu a vaga por ser o suplente.

"O gabinete do ódio, todo esse ecossistema de propagação de mentiras, que sustenta o bolsonarismo no Brasil, atacou o Glenn Greenwald, criando uma mentira contra mim. Eles me usaram nesta mentira. É fácil mentir sobre mim porque é fácil manipular a homofobia das pessoas."

Para o ex-deputado, como há homofóbicos nos mais diversos setores da sociedade e da política, "o bolsonarismo se contrói em cima da homofobia e fica muito fácil levar as pessoas a aderirem a mentiras homofóbicas".

"O bolsonarismo conquista corações e mentes no Brasil a partir da homofobia, por exemplo transformando o projeto Escola Sem Homofobia em kit gay, com a mentira da mamadeira de piroca, que é colocar o homosexual como ameaça às crianças", disse.

Moro foi cúmplice da rede que agora o ataca

Wyllys destaca que nas narrativas falsas divulgadas nesta semana, ele é novamente utilizado pelo bolsonarismo no ataque a outras pessoas. Ironicamente, o alvo agora é Sergio Moro. Isso porque, lembra o ex-deputado, Moro evitou investigar as redes de mentias bolsonaristas quando se beneficiava dos ataques ao Intercept.

“Sergio Moro era ministro da Justiça na época. Então, Sergio Moro era cúmplice do bolsonarismo. O Intercept apresentou provas da conspiração entre (Deltan) Dallagnol (coordenador força-tarefa) e Moro. Moro orientava a acusação. Por isso, ele foi cúmplice desse ataque ao Gleen Greenwald. Ele buscou desclassificar as provas do Intercept. Não fez nada para investigar essas mentiras.”

No entanto, analisa Wyllys, Moro passou a ser alvo das redes bolsonaristas por ter "saído do governo atirando", denunciando as interferências de Bolsonaro em investigações da Polícia Federal envolvendo filhos e aliados. O ex-deputado destaca que o ex-ministro citou o inquérito que liga Flávio Bolsonaro com as milícias cariocas e o inquérito justamente sobre uma rede de ataques online a autoridades da República, da qual Carlos Bolsonaro é apontado como coordenador.

"Mais uma vez eles recuperam a minha figura para atacar Sergio Moro", disse Wyllys. A narrativa dos bolsonaristas é a de que Moro não investigou corretamente o ataque a faca sofrido por Bolsonaro em 2018. Algumas publicações nas redes sociais fazer a alegação falsa de que o ex-deputado esteve em contato com o autor da agressão, Adélio Bispo.

“Qual é a teoria conspiratória que eles estão criando. É dizer que Sergio Moro ‘sentou’ na investigação sobre a suposta facada que Bolsonaro levou nas eleições para me favorecer. Segundo esta teoria mentirosa, eu teria sido o mandante do atentado contra Bolsonaro. É muito estapafúrdio”, resumiu Wyllys.