O brilho que vem de lá

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Poeta, cantô de rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu.

Por   Poeta, cantô de rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu. Esta é a primeira estrofe de “Cante lá, que eu canto cá”, de Patativa do Assaré. Abaixo, a última estrofe: Aqui findo esta verdade Toda cheia de razão: Fique na sua cidade, Que eu fico no meu sertão. Já lhe mostrei um ispeio, Já lhe dei grande conseio Que você deve tomá. Por favô, não mexa aqui, Que eu também não mexo aí, Cante lá que eu canto cá. É mais do que tarde para que o “Sul Maravilha” – e sua aristocracia econômica, intelectual, política etc. e tal – pare de olhar o Nordeste brasileiro, em especial aquele que convive com as durezas do Semi-Árido, de cima para baixo. De esguelha e rabo de olho. A interpretá-lo a partir de sua lógica de máquina de calculadora. E mesmo se quiser seguir com ela, vai ser preciso mudar o sinal da conta. A dívida é grande. Deve-se muito aos cidadãos brasileiros que seguram a onda de uma integração nacional que só existe em mapas de papel. Mas o nordestino é cabra-valente. Ou o sertanejo é um forte, como preferiu Euclides da Cunha. O Nordeste brasileiro, caro amigo leitor, está criando um Brasil, um novo modelo ainda sem nome, sem marca ou assinatura. Um projeto que não se pretende enorme e dominador. É coisinha aqui e ali. Um resgatar criativo. Passado virando futuro. Uma rede solidária, onde, como diz o Xico Sá, o jumento e as motos convivem no mesmo lugar. Escutemos, pois, Patativa, e seu canto de liberdade, de amor pelo sertão, de belíssima tradição... Ouçamos o que vem do Sertão. Ainda há muito por fazer, mas algo parece mudar.