O empoderamento das mulheres e o problema do deputado Flavinho

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Não é o fato de ser religioso que o leva a fazer um discurso machista e desinformado. É como você escolhe ser religioso Por Adriana Dias Caro deputado Flavinho, vou escrever este artigo diretamente para o senhor, esperando que ele chegue, via web, pela maravilhosa atitude do compartir até sua pessoa. Na noite de 27 de abril, no plenário da Câmara Federal, o senhor se manifestou radicalmente contra a criação da Comissão da Defesa dos Direitos da Mulher com um discurso que chocou pelo tom machista e pouco informado. “As mulheres que estão lá fora, que não são feministas, como muitas aqui, a mulher 'de verdade' que está lá fora ralando para sobreviver não quer empoderamento. Ela quer ser amada. Ela quer ser cuidada.”  Como discordo de sua desinformação desinformante e de seu machismo que se fantasiou de cristão, uso o presente texto para tentar explicar alguns pontos: Em primeiro lugar, não vou tentar lhe explicar a teoria do Estado Laico, a CEDAW, os direitos universais. Não acho que o senhor, como demonstrou aquele dia, tenha capacidade intelectual para tanto. Então, valho-me do espaço que temos em comum, a cristandade. Conheço Canção Nova há quase duas décadas, fui convidada por padre Jonas, um dos coordenadores de Canção Nova, para integrar a parte de comunicação no início do século e nunca quis. Cuidei da parte online de uma das maiores revistas católicas desse país, a Sem Fronteiras, e ajudei com dicas, Toca de Assis, a comunidade católica, a colocar seu primeiro site no ar. Tenho até hoje o CD de imagens que me trouxeram que guardo com carinho, e certa tristeza, pelo que aconteceu com Padre Roberto, o fundador da TOCA, porque sei exatamente o que aconteceu, e silencio aqui esse ponto. Pois bem, sei que Constituição e CEDAW lhe são completamente desconhecidas, mas o senhor já ouviu falar da Bíblia Católica? Vou lhe explicar, é um livro muito lido. Tem histórias fantásticas lá. Na parte mais antiga, chamada Velho Testamento, existem os livros históricos, entre eles, um chamado Juízes, que contam como viviam os israelitas antes da época dos reis, que começaram com Saul. Ser um Juiz em Israel era o maior cargo, era como ser presidente, um empoderamento e tanto. Você sabia que houve juízas? Debora, por exemplo, diz a Bíblia, foi UMA JUÍZA EM ISRAEL. Também no Velho Testamento, há outras histórias de grandes mulheres empoderadas, algumas também amadas, outras não, como JUDITE, uma bela viúva judia, que num dia muito feliz adentrou no acampamento de Holofernes, bebeu com o general e o embebedou, para então DECAPITÁ-LO, na boa, enquanto dormia. Depois disso, ela regressou à Betulia com a cabeça do general e os judeus venceram o inimigo. Quer mais empoderamento que beber com um sujeito e cortar a cabeça dele e depois levar a cabeça do moço como prêmio, para seu povo oprimido ganhar uma guerra? Eu poderia ficar aqui citando um monte de gente bíblica que foi salva por grandes mulheres empoderadas. No Novo Testamento, Jesus escolheu uma mulher para ser a primeira a vê-lo ressurreto, Maria Madalena, e incentivou a independência de todas as mulheres que andavam com ele. Muitas mulheres autônomas auxiliaram os apóstolos no início do Cristianismo. O Papa Francisco denominou uma mulher para a Congregação da Evangelização dos Povos. Uma pessoa que conheço e amo, a irmã Luiza Premoli, superiora geral das Missionárias Combonianas. Já até aventou a possibilidade de convocar uma mulher para ser cardeal. Revendo tudo isso, fica claro para mim que não é fato de ser religioso que lhe faz pensar assim, é COMO você escolhe ser religioso: negando a MULHER o lugar que a Igreja, Deus, as Escrituras lhe deram. É deputado, a origem deve ser outra. Já pensou no divã, Flavinho? Foto de capa: Reprodução