O mundo a partir da África

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Editorial de fevereiro

Por   É impressionante como o Fórum insiste em ser o protagonista deste novo século do ponto de vista das relações planetárias pela perspectiva dos movimentos sociais. Mesmo com todas as dificuldades, o FSM Quênia teve e terá um papel fundamental – ainda que impossível de se dimensionar neste momento – para a luta africana. O que aconteceu aqui no Quênia, de onde se escreve este editorial, pode provocar mudanças profundas na estratégia do movimento altermundista, cujas lideranças se encontram muito mais localizadas nas Américas e na Europa. A partir de agora, talvez seja inevitável pensar as lutas planetárias a partir da realidade africana. Um exemplo: na Tanzânia, conta-nos um jesuíta, o governo foi obrigado pelo Banco Mundial, como condição para receber ajuda internacional, a privatizar a exploração de sua água. Isso foi em 2000. Em 2006, depois de a empresa inglesa vencedora da concorrência ter descumprido uma série de cláusulas, o contrato foi rompido pelo Estado. O resultado é que, para o mercado, a Tanzânia violou um acordo e precisa ser punida. A empresa quer receber o tal lucro cessante por um investimento que não fez e por um serviço pelo qual foi contratada e não prestou. Essa é a realidade africana. A da luta contra a superexploração. O Fórum vai ter de discutir o que se passa neste continente com muito mais carinho e dedicação a partir da experiência no Quênia. E o movimento social africano pode ter ganho aquilo que a sociedade civil brasileira conquistou depois do primeiro FSM em Porto Alegre, uma enorme dose de autoconfiança. É verdade que o Fórum ainda tem muito que avançar para se tornar de fato um movimento planetário. Falta chegar à China, à Ásia profunda, aos países do Oriente Médio e mesmo ao Norte africano, com forte presença islâmica. Mas como não é possível atingir todos os cantos de uma vez, seria interessante refletir se o desafio para este fim de década não é o de pensar o FSM e as transformações mundiais a partir da África. Quer saber, leitor, o próximo FSM deveria também ser aqui, para que pudesse fincar um pé definitivo neste continente.