As voltas que o mundo dá: Angola "coloniza" Portugal

Por três séculos, os portugueses acumularam riquezas às custas do país africano, comercializando escravos, explorando recursos naturais e impondo um dos mais terríveis regimes colonizadores na África. Agora, é a vez dos angolanos darem as cartas

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Por três séculos, os portugueses acumularam riquezas às custas do país africano, comercializando escravos, explorando recursos naturais e impondo um dos mais terríveis regimes colonizadores na África. Agora, é a vez dos angolanos darem as cartas Por Vinicius Gomes, com informações de El País A mulher mais rica da África está disposta a comprar a Portugal Telecom. Com uma fortuna estimada em mais de 3 bilhões de dólares, a empresária angolana Isabel dos Santos entrou na concorrência para a aquisição da companhia telefônica portuguesa. Inclusive, Isabel dos Santos já é acionista da empresa em suas operações em Angola, assim como na concorrente NOS, líder em TV por assinatura no país africano. Além disso, dos Santos possui participações de 10% no Banco Português de Investimentos e de 20% do Banco Comercial Português – através da estatal angolana petrolífera Sonagol, que por sua vez controla a petrolífera portuguesa Galp.  Coincidência ou não, a empresária também é filha de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola há 35 anos. Todavia, a “rainha da África”, como também é chamada, não é a única que está  "indo às compras" na ex-metrópole. As empresas brasileiras também têm feito aquisições importantes em Portugal: dois anos atrás, a construtora Camargo Corrêa comprou a Cimpor (Cimentos de Portugal), por 5 bilhões de euros e a própria Portugal Telecom tem sido taxada como “moeda de troca” pela operadora brasileira Oi, para que essa compre a subsidiária brasileira da Telecom Italia, reforçando sua posição na área de telecomunicações no Brasil. Outros que estão surfando na onda privatizadora de Portugal são os chineses, que já controlam a água, a eletricidade e os hospitais do país. Por três séculos, os portugueses acumularam riquezas às custas de Angola: comercializando escravos, explorando recursos naturais e impondo um dos mais terríveis regimes colonizadores na África. A crise financeira internacional de 2008, e seus subsequentes programas de austeridade econômica na Europa, tornou possível, séculos depois, que “os angolanos, que desembarcam nos fins de semana em Lisboa para fechar as lojas de luxo da Avenida Liberdade [...] sejam hoje os colonizadores da antiga metrópole”, como afirmou o jornalista do El País Javier Martín. Mesmo assim, apesar de Angola crescer a taxas nunca vista antes e ter sua capital, Luanda, sendo a cidade mais cara do mundo para se viver; 70% de sua população vive com menos de 5 reais por dia, segundo a organização Transparency International, existem no mundo apenas 10 países mais corruptos que Angola. Foto de Capa: Grafite do artista MaisMenos  (João Henrique)