O papel das cidades para o desenvolvimento sustentável

Na Cúpula dos Povos, ativistas defendem a participação da sociedade nas decisões do espaço urbano. “As pessoas precisam ser envolvidas”, defende Boaventura de Sousa Santos

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Na Cúpula dos Povos, ativistas defendem a participação da sociedade nas decisões do espaço urbano. “As pessoas precisam ser envolvidas”, defende Boaventura de Sousa Santos  

Por Maria Eduarda Carvalho 

O papel das cidades para o desenvolvimento sustentável também fez parte das temáticas debatidas na Cúpula dos Povos na Rio+20. “O futuro da sustentabilidade está nas cidades” afirmou Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo. O painel “Cidades sustentáveis, oportunidades para os empreendedores sociais”, no Fórum de Empreendedorismo Social na Nova Economia, reuniu cerca de 600 pessoas no Forte de Copacabana para debater o assunto.

Oded Grajew falou sobre o Programa Cidades Sustentáveis, criado por uma rede de organizações da sociedade civil, que oferece uma agenda de 12 eixos e indicadores de diferentes cidades. O programa traz ainda um plano de metas com as práticas que podem ser adotadas pelos governos para dar início a um novo modelo de gestão sustentável. “Procuramos introduzir uma mudança na lei orgânica dos municípios. Através da carta-compromisso, os prefeitos se comprometem a criar metas e prestar contas dos projetos criados para desenvolver as cidades de forma sustentável sob alguns princípios básicos como erradicar a pobreza, a miséria e a fome, diminuir a poluição, construir ciclovias, entre outros”, afirmou.

O evento contou com a exposição de exemplos de boas práticas, como a Rede da Maré, movimento que há 15 anos trabalha com eixos estruturantes na maior favela carioca. Segundo Eliana, a organização desenvolve ações que acrescentam qualidade de vida para os moradores. Ainda de acordo com ela, a realidade da comunidade, hoje, é bem diferente de quando a rede teve início. Porém, ainda está longe do que os moradores querem. “Nossa batalha hoje é criar formas para atrair a população”, disse.

Representando o movimento Nossa Zona Leste, Luís França também compartilhou propostas para um novo modelo de gestão das grandes cidades. Como ele explicou a zona leste tem mais habitantes que a maioria das cidades brasileiras, e, apesar de estar num dos estados mais ricos do Brasil, ainda sofre com problemas primários. Das mais de 200 metas que a prefeitura de São Paulo se comprometeu a cumprir, nas duas últimas gestões de Gilberto Kassab (PSD), até agora só 23 foram cumpridas e nenhuma delas se relaciona diretamente com as comunidades. “Essas metas foram criadas num gabinete, nós já levantamos mais de 300 e vamos apresentá-las aos candidatos deste ano.”

Os exemplos dos empreendimentos sociais não ficaram só no Brasil. O prefeito de Vitoria-Gasteiz, na Espanha, Javier Maroto, contou o que fez a cidade ganhar o título de Capital Verde Europeia 2012. “Chega de pensar em construir palácios erguidos pelos melhores arquitetos. Temos que fazer coisas diferentes, inovar, reformar, reaproveitar”, destacou.

Já Cláudia Bustamante, do Nueva Region Como Vamos, do Chile, ressaltou a importância da participação da sociedade nas decisões das cidades e defendeu um modelo de “Cidadania 2.0”. “As autoridades ainda nos veem como ameaça, não sabem trabalhar em conjunto com a sociedade”, disse.

Encerrando o painel, o sociólogo e professor português Boaventura de Sousa Santos destacou que “não há cidade sustentável sem desenvolvimento sustentável, e não há desenvolvimento sustentável com a obsessão do crescimento infinito e do consumo desenfreado”. “As cidades têm apresentado graus de desigualdades enormes e isso vem sendo revelado pelo trabalho da sociedade civil”, afirmou. “As pessoas precisam ser envolvidas, não há cidade sustentável, sem envolvimento sustentável.”

Foto: Flickr/Percurso da Cultura