O papel do intelectual

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Editorial de março

Por   Quando se diz que alguém é polêmico, em geral se está sendo sutil para afirmar que o sujeito é um tanto chato. Isso não vale para o professor Chico de Oliveira, um dos intelectuais mais importantes e instigantes de sua geração. E um dos mais agradáveis de se entrevistar. A capa desta edição resulta de uma conversa de quase três horas em que se falou de tudo de forma franca e direta. Sem aquela petulância que alguns entrevistados assumem para fazer que o papo fique sem o contraditório. Por isso, a entrevista que o leitor encontrará tem um ritmo um tanto diferente. É um lá e cá de entrevistado e entrevistador que pode até fazer crer, a quem não estava naquela sala de seu apartamento na Vila Romana, em São Paulo, que foi algo tenso. Pelo contrário. Foi algo tranqüilo. Mas quando discordava do viés da questão, Chico não se fazia de rogado, batia duro. Como bateu duro no PT, em Lula, no PSOL, em Heloísa Helena e até em Mao Tsé-Tung e na possibilidade de a China vir a ser uma potência imperialista. Se alguém imagina que o professor faz isso por ranhetice, engana-se. Ele explica que de alguma maneira considera que esse é o papel do intelectual, o de incomodar o consenso. O de ser pessimista. E que infelizmente isso está acabando porque os cientistas sociais resolveram se profissionalizar. Concordando-se ou não com muitas das opiniões do entrevistado deste mês, é de se pensar se não estão faltando uns outros tantos Chicos de Oliveira, que se disponham a incomodar pela esquerda. Gente que cutuque com radicalidade e sem ficar fazendo o jogo do mercado e do establishment. Aliás, como o próprio entrevistado disse, ser radical não é o mesmo que ser sectário.