“O que aconteceu no Paraná é um microcosmo do que pode acontecer no Brasil”, diz Requião

Reação de funcionários públicos e professores em greve, que evitaram aprovação de “pacote de maldades” do governador Beto Richa (PSDB), deveria servir como reflexão para o governo Dilma, acredita o senador Roberto Requião (PMDB-PR)

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Reação de funcionários públicos e professores em greve, que evitaram aprovação de “pacote de maldades” do governador Beto Richa (PSDB), deveria servir como reflexão para o governo Dilma, acredita o senador Roberto Requião (PMDB-PR) Por Glauco Faria Nesta quinta-feira (12), Curitiba viu uma cena que poderia fazer parte de algum filme de realismo fantástico. Deputados estaduais da base do governador Beto Richa (PSDB) chegaram escoltados pela polícia militar em um blindado da corporação para participar de uma sessão da Assembleia Legislativa. Eles pretendiam formar uma comissão geral para votar um pacote de medidas, propostas pelo governo do estado, que em tese combateriam a crise financeira do Paraná. Faltou combinar com funcionários públicos, professores e outros segmentos sociais prejudicados. Manifestantes ocuparam as dependências da Casa e cercaram a Assembleia para impedir que fosse aprovada a comissão geral. Ela evitaria que as medidas passassem pelos trâmites normais do Legislativo local, fazendo com que fossem aprovadas a “toque de caixa” e sem discussão. Ao fim, o governo estadual retirou o pacotaço da pauta. Em nota, Richa afirmou que “o que aconteceu foi uma manifestação absurda e violenta, que atenta contra a democracia, a liberdade de expressão e o estado de direito”. “O Paraná vive uma crise administrativa. O 'Levy do Paraná', que é o secretário da Fazenda [Mauro Ricardo Costa], enlouqueceu e contaminou o governador. Eles propuseram a liquidação da educação do Paraná e queriam acesso ao fundo previdenciário de 8 bilhões de reais para pagar suas contas, acabando com a possibilidade de aposentadoria do funcionalismo”, argumenta o senador paranaense Roberto Requião (PMDB), em entrevista à Fórum. De acordo com o parlamentar, as medidas do governador colocariam em risco a educação no estado. “Este é o único fundo público do Brasil que não perdeu dinheiro porque, como governador, eu havia determinado que a totalidade do fundo fosse investida em letras do tesouro nacional, não era um fundo de capital variável. E o Richa resolveu agora mandar uma mensagem à Assembleia para colocar o dinheiro desse fundo em um caixa único e acabar com todos os avanços da educação do Paraná”, contesta. Para o peemedebista, o que aconteceu na Assembleia foi “uma revolta contra uma política de cortes agressiva de um governo perdulário” e que põe em risco pontos como o projeto de formação continuada dos professores. “O Paraná era o primeiro estado em qualidade de educação e caiu para nono e eles [o governo do estado] estavam acabando com o plano de cargos e salários, abandonaram as escolas, estavam fechando unidades com os cortes no orçamento. Com o pretexto de enxugamento da máquina, mas, ao mesmo tempo, concordavam com o auxílio-moradia de juízes, Tribunal de Contas, Ministério Público...”, aponta. Crítico da política econômica do governo federal, em especial das medidas de austeridade propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Requião alerta para o tipo de reação que pode ocorrer caso a gestão de Dilma Rousseff insista nessa linha. “O que aconteceu no Paraná é um microcosmo do que pode acontecer no Brasil”, adverte. “É preciso dizer se existe um projeto, o povo merece pelo menos saber porque está se sacrificando”, argumenta. Para dar suporte ao movimento grevista e aos manifestantes do Paraná, Requião colocou à disposição sua TV15. Criado em sua campanha para governador em 2014, o canal de televisionamento pela internet deu suporte a blogueiros que buscam realizar um contraponto à mídia tradicional no estado, fazendo transmissões ao vivo via streaming (veja um dos vídeos abaixo). Política do governo Dilma Sobre o governo Dilma, Requião define a relação política da sua gestão com o Parlamento como um “jogo mal jogado”. Nesse cenário, a eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara seria mais fruto da atuação do governo junto ao Congresso do que de sua capacidade de liderança. Para o senador, as medidas econômicas de Joaquim Levy “não têm chance” de serem aprovadas. “Seria melhor o governo retirar essas propostas”, afirma. O parlamentar paranaense também afirma que Eduardo Cunha acalenta o sonho de ser candidato à presidência da República, por isso não apoiaria um eventual pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que colocaria no cargo um adversário do deputado, Michel Temer. Dentro desse projeto de poder estaria a tomada de espaço dentro do partido, representada, por exemplo, pela eleição de Leonardo Picciani a líder do PMDB na Câmara, que teria contado com apoio do presidente da Casa. Questionado sobre se o sonho de Cunha de chegar ao Planalto é factível, Requião responde: “Se Fernando Collor foi eleito...”. Foto: Lia de Paula/Agência Senado