O que é um Estado Laico?

Tema voltou a ser discutido nas redes por conta da sabatina de André Mendonça, indicado por Bolsonaro ao STF e que é pastor evangélico

Debate sobre o Estado Laico retornou por causa da sabatina de André Mendonça/Foto: CEERT
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Com a sabatina de André Mendonça, ritual obrigatório para que, posteriormente, tenha o seu nome aprovado ou não para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o debate sobre o Estado Laico voltou à tona, pois, o indicado de Bolsonaro é evangélico praticante e classificado pelo presidente como "terrivelmente evangélico".

Ao ser questionado se respeitaria a laicidade do Estado no STF, Mendonça respondeu que “na vida a Bíblia, no Supremo a Constituição. Portanto, no STF defenderei a liberdade religiosa de todo o cidadão, inclusive aqueles que optam por não ter religião”.

Mas, o que é Estado Laico e quando ele foi instituído?

A ideia de um Estado Laico surge com a Revolução Francesa (1789-1799) e é considerado um dos pontos fundantes da Modernidade, pois, além de marcar o fim dos Estados absolutistas, também estabeleceu a separação entre Estado e Religião.

Com isso, além de retirar a religião das tomadas de decisões políticas, o Estado Laico é um avanço no que diz respeito às liberdades religiosas. Ou seja, O Estado Laico garante a liberdade de profissão de fé, seja ela qual for.

Estado Laico: quando foi instituído no Brasil?

No Brasil o Estado Laico foi instituído em 1890 por meio de um decreto de autoria de Ruy Barbosa.

Cabe destacar que, à época da instituição do Estado Laico no Brasil, havia liberdade de crença, mas não de culto, o que foi instituído com a laicidade.

Posteriormente, a laicidade de Estado seria garantida na Constituição Cidadã de 1988.

Fundamentalismo e ataques ao Estado Laico

Apesar de ser possuir um Estado Laico, o Brasil ainda vive, digamos, uma transição para uma laicidade de fato.
Não é incomum encontrarmos em espaços públicos símbolos de uma determinada religião, mas não de outras, o que contraria o princípio da laicidade.

Além disso, o Brasil vive nos últimos anos com a ascensão política de grupos fundamentalistas que se colocam declaradamente contra o Estado Laico.

Tal grupo serve de sustentação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) que, por mais de uma vez, atacou o Estado Laico.

Em setembro de 2020, o presidente Bolsonaro afirmou que "o Estado laico", mas que o seu governo "é cristão".

A declaração de Bolsonaro vai de encontro com o que estabelece o Estado Laico, de que nenhum governo pode adotar religião oficial, nem assumir valores ou se manifestar em pautas religiosas.

Um governo que pratica o Estado de Laico de fato não pode emitir opiniões favoráveis a determinadas religiões, pois, tal postura vai de encontro a liberdade e a proteção de cultos.

A declaração de Bolsonaro é problemática, pois, também coloca as religiões não cristãs à margem.

https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1306349474592194566?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1306349474592194566%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.diariodepernambuco.com.br%2Fnoticia%2Fpolitica%2F2020%2F09%2Fo-estado-e-laico-mas-nosso-governo-e-cristao-diz-bolsonaro-no-twit.html

Para além das liberdades religiosas

Outra questão que o Estado Laico garante é que as políticas públicas possam se pautar sem amarras para tratar de questões como liberdades sexuais, LGBT e aborto.

Por fim, o ataque à laicidade do Estado também parte de membros do governo Bolsonaro, sendo a figura mais proeminente a ministra dos Direitos Humanos Damares Alves.

Quando tomou posse no ministério, Damares afirmou que se iniciava a “era de meninos vestem azul, meninas vestem rosa”, lema de grupos ligados ao Escola Sem Partido, contrário ao Estado Laico e fundamentalista.

https://www.youtube.com/watch?v=6myjru-e81U

“Na vida a Bíblia, no Supremo a Constituição”, diz Mendonça

Indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com a promessa de ser um “ministro terrivelmente evangélico”, André Mendonça mudou o discurso durante sabatina no Senado nesta quarta-feira (1º) e afirmou que se comprometerá com o Estado laico.

“Embora seja genuinamente evangélico, entendo não haver espaço para manifestação pública religiosa durante as sessões do STF. Na vida a Bíblia, no Supremo a Constituição. Portanto, no STF defenderei a liberdade religiosa de todo o cidadão, inclusive aqueles que optam por não ter religião“, disse o pastor licenciado

Mendonça ressaltou que pertence à Igreja Presbiteriana, que nasceu no contexto da Reforma Protestante e que prega a defesa à separação entre igreja e Estado. Na própria fala, no entanto, ele agradeceu diversas vezes a Deus e as orações feitas para ele.