O que o Ibope nos diz sobre 2018 e a crise da representação

A sondagem nos diz muito mais sobre a crise dos partidos e da política do que sobre a sucessão em 2018. Os principais nomes partem em direção à sucessão presidencial em meio a um desconforto geral com a política, que se reflete em índices significativamente elevados de rejeição

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A sondagem nos diz muito mais sobre a crise dos partidos e da política do que sobre a sucessão em 2018. Os principais nomes partem em direção à sucessão presidencial em meio a um desconforto geral com a política, que se reflete em índices significativamente elevados de rejeição Por Vinicius Gomes Wu A última pesquisa Ibope a respeito do ambiente político nacional pode ser interpretada de diversas formas. Por motivos óbvios, a grande mídia resolveu destacar os 55% que afirmam não votar em Lula em 2018 – ainda que a diferença em relação aos eventuais concorrentes seja ínfima. Mas, com um pouco de rigor analítico e alguma honestidade intelectual, é possível produzir análises mais consistentes e, sendo assim, ao menos uma conclusão nos parece evidente: a crise da representação tomou a forma de uma rejeição generalizada à geração política formada no contexto da redemocratização. Esse é o dado mais importante da sondagem. Entre os entrevistados, 54% rejeitam Serra e 52% Alckmin e Ciro Gomes. Marina marca 50% no mesmo quesito e Aécio, que já tinha um alto índice de rejeição, chega aos 47%. Ou seja, quase todos estão empatados, na margem de erro, com Lula. Mesmo assim, os grandes veículos do centro-sul do país resolveram destacar apenas os 55% de rejeição ao ex-presidente. O fato é que pelas incertezas que temos pela frente – em função da complexa conjuntura política e econômica – e pelo tempo que temos até as eleições, é possível afirmar que a pesquisa Ibope nos diz muito mais sobre a crise dos partidos e da política (crise da representação) do que sobre a sucessão em 2018. Afinal, os principais nomes da política nacional – e eventuais candidatos à Presidência em 2018 – partem em direção à sucessão presidencial em meio a um desconforto geral com a política, que se reflete em índices significativamente elevados de rejeição. E este não parece ser um dado episódico. A rejeição à política tradicional vem se intensificando desde os protestos de junho de 2013. A crise da representação política – fenômeno verificado em boa parte das democracias ocidentais – e a quebra de confiança nas instituições públicas foram elementos decisivos para que explodissem as surpreendentes mobilizações ocorridas durante a Copa das Confederações, há dois anos. E a situação parece estar se tornando mais complexa. A maioria dos partidos e políticos tradicionais preferiu tratar aquele processo como um fenômeno isolado, extemporâneo. Muitos analistas, no entanto, advertiram que os protestos de 2013 apontavam, fundamentalmente, para o encerramento de um período político no país. As eleições de 2014 pareciam ter refutado essa tese, ao reproduzir a polarização PT x PSDB. Mas, elas podem ter sido apenas um último suspiro de um período que caducou. A pesquisa Ibope reforça essa percepção. O desgaste dos partidos, das instituições representativas, do Congresso e dos governos em geral, parece estar levando amplas parcelas da população a extravasar seu “cansaço” em relação a toda geração política originária do processo de redemocratização. E isso se relaciona com a crise dos partidos, das representações sociais e sindicais e com a busca por novas formas de organização e mobilização. O que os novos fenômenos políticos e as pesquisas de opinião pública parecem indicar é que vivemos uma mudança de período político que ocorre desacompanhada de uma renovação de lideranças políticas nacionais. Mesmo Marina Silva, que busca ocupar o lugar do “novo” na política não saiu incólume desse processo. Sua rejeição foi uma das que mais subiram no último período, segundo o Ibope. Portanto, como já foi dito acima, a pesquisa Ibope diz muito mais sobre a crise da representação política do que a respeito das eleições de 2018. Os altos índices de rejeição aos eventuais candidatos dos principais partidos é um fenômeno que deve ser observado, compreendido, gerando iniciativas concretas que nos permitam, em última análise, revigorar os elementos constitutivos da própria democracia brasileira. O vácuo que pode ser produzido pelo desgaste da política e dos partidos podem nos colocar diante de possibilidades pouco promissoras em termos de afirmação dos valores da democracia e da república nos próximos anos. Reformar a política pode deixar de ser simplesmente uma opção para se tornar uma imposição, de fora pra dentro, do atual sistema político. E, nesse caso, o desfecho estará longe de ser previsível. Foto de capa: Mídia Ninja