O Sol e a noite dos secundaristas em Curitiba

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Ato contra a Reforma do Ensino Médio e MP 241 levou cerca de cinco mil pessoas às ruas da capital paranaense Por Gibran Mendes Até o Sol resolveu aparecer na tarde deste domingo (9) em Curitiba (PR) para esquentar, ainda mais, a panela de propostas para a educação do presidente Michel Temer. Um ato, no centro da capital paranaense, reuniu aproximadamente cinco mil pessoas. A maioria esmagadora formada por jovens estudantes. Eles não aceitam a reforma do ensino médio e a Medida Provisória 241 que congelará os investimentos em educação nos próximos 20 anos. Jovens, essencialmente da periferia, ocupavam o centro em um dia iluminado no céu pelos raios solares e no chão pela energia dos estudantes secundaristas. “Estou pensando no futuro de todo mundo que está vindo, da galera que está no ensino fundamental, no futuro do meu filho e da geração que virá”, afirma o jovem Lucas Gabriel de Paula, de 15 anos, que estuda no colégio Arlindo Carvalho de Amorin, no CIC, na periferia de Curitiba. [caption id="attachment_91118" align="alignleft" width="460"]Ato reuniu cerca de 5 mil pessoas na capital paranaense. (Foto: Leandro Taques) Ato reuniu cerca de 5 mil pessoas na capital paranaense. (Foto: Leandro Taques)[/caption] Ele veio acompanhado de 11 colegas seus da escola. O sentimento é mesmo “Não tem arrego, mexeu na educação eu tiro o teu sossego”, prometeu Lucas. De acordo com ele, há uma intensa mobilização no seu colégio. Não apenas por organizar ato, mas para esclarecer as mudanças para a sociedade. "Estamos fazendo a galera se conscientizar do que é essa MP. Ainda tem gente que não entendeu muito bem, temos que passar de novo reforçando, mas já fizemos uma parte compreender. Então já está valendo muito”, garantiu. A explosão de hormônios, as células se multiplicando de forma rápida e aquele brilho de esperança que somente os jovens têm acabam por empolgar os mais velhos. “Total apoio aos estudantes”, afirmou a assistente social Ana Maria, de 40 anos. Ela acompanhava nas escadarias do prédio da UFPR a movimentação dos secundaristas. Embora confesse que esperava um público maior do que as cerca de cinco mil pessoas, Ana Maria estava confiante. “Estou bem emocionada e confiante. Eu aposto muito na juventude. (Vim aqui) pelo amor pela juventude, pela educação e pelo meu País. Não posso admitir tanto retrocesso e as pessoas sem lutar, sem reagir”, comentou. Ausência de reação não será um problema. Não pelo menos no que depender dos estudantes, como é o caso de Isis Cristina, de 16 anos, que estuda no Colégio Pedro Macedo, no bairro Portão. Tão serena quanto decidida, a jovem secundarista disse que diversas mobilizações já estão sendo organizadas no seu colégio. “Sabemos que vai existir resistência da direção, de parte da sociedade, pais e alunos. Mas se não for assim não vamos conquistar nossos direitos. Estamos dispostos a encarar essa resistência”, avaliou. O diálogo não se resume aos colegas, mas também entra nos lares dos estudantes secundaristas. “Meus pais estão dando o maior apoio para mim e para todos os estudantes. Tem muita gente, de mais idade, que vem falar para nós continuarmos. Falam que eles também já passaram por isso e que é só assim mesmo para conquistarmos nossos direitos. Mas não só conquistar, mas também não perder os direitos que já temos”, explicou. Estudante do maior colégio público do Estado, Rafaela Litz, de 17 anos, está no 3º e frequenta o Colégio Estadual do Paraná. Ela reafirmou o papel cidadão dos estudantes e das manifestações. “Mesmo que não fosse secundarista eu sou uma cidadão e tenho que lutar pelos meus direitos”, afirmou. Segundo a estudante, a ocupação no Colégio Estadual do Paraná não tem data para a acabar. Rafaela também rejeitou as afirmações de que os secundaristas são massa de manobras de outras organizações. “A ocupação está linda. Os estudantes estão nos representando muito bem com tudo muito organizado. Estamos conseguindo fazer uma autogestão maravilhosa. Estamos tendo ajuda com relação a doações, como no caso de comidas, mas tirando isso é tudo autogestão mesmo”, completou. Os próprio estudantes, de acordo com ela, fazem inclusive a programação cultural no colégio. São shows, palestras e aulas públicas para preencher o tempo. A noite em Curitiba Após encerrar o ato na Praça Santos Andrade, o grupo seguiu em caminhada. Na esquina das Rua João Negrão e Marechal Deodoro, Alessandro Harfuche, de 30 anos, que ajudava na organização bloqueando a rua para a passagem dos estudantes foi atropelado. Segundo relato de testemunhas, um Fiat Doblô, de placa MKQ 1169, de Joinville, teria avançado com o carro e atropelado Harfuche. Ele foi atendido prontamente e enviado ao Hospital Evangélico com fratura nos dois braços. Ele passou por uma cirurgia e uma novo procedimento está agendado para sexta-feira (14). O veículo não parou para prestar atendimento e um Boletim de Ocorrência foi registrado. Foto de capa: Leandro Taques