O FSM e o movimento altermundista

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O conhecido lema do FSM – “um outro mundo é possível” – representa uma bandeira muito mais positiva e esperançosa que os necrófilos lemas que agitavam os movimentos progressistas do século passado: “socialismo ou morte” e “socialismo ou barbárie”. O lema se sustenta na tese de Antonio Gramsci sobre a necessidade revolucionária do “pessimismo da inteligência e do otimismo da vontade”. Alguns são ainda céticos em relação às possibilidades do Fórum alcançar seus objetivos porque, segundo afirmam, seu formato e seu método de organização autogestionada seriam pouco eficazes.
É verdade, como um processo em construção, o FSM ainda não resolveu todas as suas questões internas, mas uma coisa é certa: sua missão está muito bem definida no seu próprio lema. Ele busca uma outra globalização, um outro mundo, como possibilidade concreta e não como determinação. O Fórum está desbancando o pensamento fatalista neoliberal.
O FSM não está, com isso, monopolizando todas as forças progressistas alternativas da sociedade. Ao contrário, ele se inscreve no contexto de um amplo movimento global altermundista, mas não tem nenhuma pretensão de ser o único canal de manifestação deste movimento. O movimento altermundista encontrou no Fórum o seu mais estruturado espaço de organização. Em torno dele orbitam muitos atores sociais, projetos e ações transformadoras, nas mais diversas áreas, fruto de seu caráter dialógico e inclusivo.
Seus participantes não se entendem como mais um movimento entre outros movimentos e nem como um movimento de movimentos. Teivo Teivanen, membro do Conselho Internacional do Fórum, considera o espaço e processo do FSM como um organismo “em movimento”, em construção e reconstrução, para responder aos desafios do presente e tornar o mundo mais democrático do que é hoje. Contudo, para isso, sustenta ele, o projeto “político” do FSM precisa estar mais claro. Em outras palavras, ele precisa aprofundar a sua politicidade. Neste momento, precisará deixar mais claras suas estratégias. A defesa do FSM enquanto “espaço aberto” não pode permitir sua “despolitização”, onde tudo cabe, o que levaria, certamente, a frustrar os movimentos mais transformadores que o integram, tais como a Via Campesina, a Via Urbana e a Central dos Movimentos Populares. O Fórum nasceu dos movimentos “antiglobalização” dos anos 90 e não conseguiu manter o ritmo de suas mobilizações, mesmo tendo se destacado na promoção do movimento contra a guerra em 2003. Creio que a manutenção, nos próximos anos, do Dia de Ação Global, como o que foi realizado dia 26 de janeiro de 2008, irá fortalecer o FSM como organismo “em movimento”, como sustenta Teivo Teivanen.
Afirma-se que existe a possibilidade de um outro mundo possível, mas não se responde à pergunta: como alcançá-lo? Afirma-se que existem alternativas ao neoliberalismo, mas não se aponta claramente quais são essas alternativas. Isso faz parte do processo. O que fica claro é que esse outro mundo possível deve ser radicalmente democrático. Esse outro mundo possível será, necessariamente, plural. Não se trata de um único mundo possível, mas “outros mundos possíveis”. O outro mundo possível supõe a existência de alternativas a ele próprio. Existem “alternativas à alternativa”, como sustenta Boaventura Souza Santos.
Como todo espaço social, o FSM é também um espaço de disputa ideológica, por mais que não tenha sido concebido como um espaço de disputa política. E isso é salutar. Não se disputa poder pessoal. Há debates e disputa de idéias e concepções, em conseqüência do respeito à pluralidade. Tanto as ONGs quanto os movimentos sociais se internacionalizaram. O próprio Fórum é um exemplo deste novo internacionalismo que está se constituindo. As tensões produzidas por essas disputas de projetos são muito produtivas e fazem avançar o projeto do FSM.
É nesse contexto que se avança e se consolida o Fórum como espaço altermundista. Sua missão não é a de consolidar uma plataforma própria de lutas, mas a de empoderar as lutas de todos os movimentos que dele participam. Ele não foi criado para substituir os movimentos altermundiais, mas para ampliar, intertematicamente, o seu espaço de ação política.
No próximo número falaremos da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), uma rede mundial de conhecimentos a serviço do FSM. F