O nome dele é Lula

Escrito en NOTÍCIAS el

Brasileiro. Nascido em 1945, numa família de pequenos agricultores de Garanhuns, em Pernambuco, poderia se chamar Tião, Severino, José... Ou simplesmente menino mais novo, como em Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Lula é o sétimo dos oito filhos – cinco homens e três mulheres – de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello. O pai deixou a mulher e os filhos para ir trabalhar na estiva do Porto de Santos carregando sacas de café.

Nordestino. Em 1952, a mãe e toda a família fazem uma viagem de treze dias num pau-de-arara, indo para Vicente de Carvalho, bairro periférico de Guarujá, no litoral paulista. Quatro anos mais tarde, Lula, a mãe e os irmãos mudam-se para a capital paulista, mas as condições de vida não melhoraram muito.

Trabalhador. Lula começa como engraxate e, aos 12 anos, faz entregas para uma tinturaria. Aos 14, consegue seu primeiro emprego com carteira assinada, numa metalúrgica. O trabalho consome 12 horas do seu dia, mas ele consegue fazer um curso de torneiro mecânico no Senai, motivo de orgulho para a mãe e uma glória reservada a poucos que chegavam a São Paulo em suas condições.

Político. Em 1966, Lula ingressa nas Indústrias Villares, conhecendo o sindicalismo por meio do irmão mais velho, Frei Chico. Nos anos seguintes, participa de forma intensa da vida sindical. Em 1972, é eleito primeiro-secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. A partir de 1975 assume a presidência do sindicato e lidera as maiores greves em meio ao regime militar. O movimento contribui decisivamente para pôr fim à ditadura.

Em 10 de fevereiro de 1980, no tradicional colégio Sion, em São Paulo, Lula e outros líderes sindicais, junto com intelectuais e lideranças políticas, lançam o manifesto que dá origem ao Partido dos Trabalhadores.

Líder, conciliador, o ex-metalúrgico do ABC aumenta seu respeito e sua popularidade a cada eleição. Os quase 40 milhões de votos que atingiu no primeiro turno desta eleição é uma marca superior à de Fernando Henrique em 1998. Ele teve 35.936.916 votos. Como bem lembra o jornal argentino Página/12, Lula teve a maior votação já registrada por um candidato de esquerda em todo o mundo.

Mas o que representa a candidatura Lula? Para a América Latina, a vitória do PT faz ressurgir a esperança que sempre embalou a esquerda, nocauteada pela onda neoliberal que varreu o continente. O porta-voz da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) Hugo Martinez declarou: “A vitória de Lula marca um ressurgimento da opção de esquerda, adaptada aos novos tempos, mas conservando princípios que visam a atender os problemas da maioria e a responder ao clamor generalizado de justiça e igualdade”.

A esquerda italiana também enviou mensagens a Lula e ao PT pelo desempenho no primeiro turno. “Companheiro Lula, o resultado eleitoral confirma a imensa vontade que existe em seu país de mudar. É um desejo de toda a América Latina e do mundo de lutar contra a injustiça social”, escreveu Fausto Bertinotti, secretário do PRC e ex-sindicalista. Alberto Ferrari Etcheberry, diretor do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de San Martín, na Argentina, crê não apenas na capacidade do líder petista em governar, mas na própria história do Partido dos Trabalhadores. “O PT é um partido que evitou o ideologismo e as divisões e se baseou em causas como a proeminência do social, a justiça, o desenvolvimento industrial sem concessões à corrupção. O PT tem um aspecto didático muito importante. Todo esse conjunto de coisas o converte em um fenômeno universal com fortes influências regionais. Muitos movimentos populares caíram na idéia de que uma coisa é o que se promete e outra, mais ‘séria’, o que se faz no poder. Com Lula isso não irá acontecer.” Lula e o PT são isso: mais que uma esperança para o Brasil, representam novos rumos para a esquerda latino-americana e mundial.

Coragem de ser feliz


“Estou me cansando de ouvir falar de Lula com descaso. Qualquer advogadinho idiota, porque formado, se acha melhor que ele, mais preparado para governar. Um intelectual desses que leu meia dúzia de livros ou escreveu qualquer bobagem, um tecnocrata que desempenhou bem ou mal algum cargo, todos se acham melhores que Lula e falam dele sem sombra de respeito. Por quê? Essa gente pensa que o exercício do poder, em postos de alta responsabilidade, cabe a uma categoria particularíssima de pessoas, na qual não incluiriam jamais um ex-operário ou um líder sindical, ainda que muito bem-sucedido. Para eles, o exercício da Presidência se dá naturalmente, é quando um figurão tradicional sucede a outro ou entrega o poder a um militar golpista. Nesses casos nunca se pergunta por competência para governar, nem se alegam incompatibilidades.
Não devia ser assim, mesmo porque foi esta gente que nos governou até hoje, quase sempre da forma mais desastrosa para o povo. Quando se fala da necessidade de reformas ou renovações, devia-se estar falando de afastar esses protagonistas fracassados, para chamar ao poder presidencial personagens novos que, ao menos, não tenham demonstrado sua inépcia para compor e reger governos democráticos capazes de promover uma prosperidade generalizável a toda a população. Vale dizer, gente como Lula, descomprometida com a ordem vigente tão privilegiadora da minoria rica que enriquece cada vez mais, quanto perversa para com o grosso da população brasileira que se miserabiliza cada vez mais. (...)
Velha e infecunda elite que sempre detestou o povo brasileiro, que o manteve sempre atrasado e faminto, usando-o como mero carvão de se queimar na produção, mas que defende de unhas e dentes sua hegemonia que uma vez mais ameaça perpetuar-se. Apesar de todos eles, havemos de amanhecer.” Darcy Ribeiro, escritor e antropólogo

”Sempre fui Lula, desde 1989. É Lula e pronto. Nem quero falar mais para não atrapalhar.” Chico Buarque de Holanda, compositor

“Esgotou-se o ciclo neoliberal. É como se tivéssemos regredido dez anos. O país precisa de um projeto nacional e Lula aponta para isso.” José Luis Fiori, cientista político

“Trabalho neste meu ofício de escritora desde a adolescência. Durante trinta anos trabalhei como procuradora do Estado numa autarquia de São Paulo. Aposentada, continuo trabalhando. Votarei num trabalhador, Luiz Inácio Lula da Silva.” Lygia Fagundes Telles, escritora

“Lula é um homem absolutamente excepcional. No panorama brasileiro não há ninguém como ele, em qualquer posição de direita, de centro ou de esquerda. Ninguém que se aproxime, de longe, da capacidade de liderança de Lula. Porque Lula, a meu ver, é um homem que encarna as aspirações profundas do povo brasileiro. Lula tem uma poderosa inteligência, e essa inteligência supre muito. Lula tem uma capacidade extraordinária de absorver qualquer fonte de ensinamento que existe em volta dele – viajando pelo país, conversando com o povo, convivendo com os intelectuais. Agora, perceba um fato notável: eu convivo com Lula há muito tempo. Conheço-o há 20 anos. Nunca vi Lula ser um “papagaio” de ninguém. Nunca vi Lula repetir o que ouviu. Ele tem uma grande capacidade de re-elaborar o que aprende. E isso é muito importante num líder.” Antonio Candido, escritor

”Tem que mudar, tem que mudar. Há 500 anos eles mandam e não resolvem. É hora de Lula.” Ziraldo, cartunista

“O que mais admiro no programa do PT é que ele tenha embutida uma estratégia para desconcentrar a renda. E que assegure uma parcela crescente do Produto Nacional para os investimentos no fator humano.” Celso Furtado, um dos maiores intelectuais do país

“Lula foi formado pelas experiências de luta de todos estes anos. É a expressão disso que o país reivindica e precisa. É a ponte para nossos sonhos de uma sociedade melhor.” Letícia Sabatella, atriz

“O Brasil precisa de um presidente que seja o melhor negociador possível, que tenha a confiança de toda a sociedade e que realmente conheça o país em profundidade.” Antoninho Marmo Trevisan, professor e consultor de empresas

“Tenho uma esperança cuidadosa. Lula é meu candidato. O PT é meu partido, sempre foi. Mas eu sei que a herança é enorme e tem muita coisa que não depende só de Lula. Desde a parte mais prática, depende do Orçamento – e ele vai estar muito limitado no início. E tem o Congresso e, por trás do Congresso, tem a sociedade. Mas já é um bom começo. Espero que ele ganhe.” Soninha, jornalista e apresentadora de TV

“O eleitorado mineiro, como a maioria do eleitorado brasileiro, vem entendendo que é chegada a hora da alternância no poder. O Brasil precisa encontrar novos rumos, notadamente no que diz respeito à ordem econômica e financeira, pois o atual modelo está exaurido.” Itamar Franco, governador de Minas Gerais