Sobre livros, ideias e atitudes

Esse opúsculo reproduz o discurso proferido por Habermas em outubro de 2001, ao receber o Prêmio da Paz concedido pela Associação dos Livreiros da Alemanha

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Por Ricardo Musse Esta matéria faz parte da edição 128 da revista Fórum. Compre aqui. Fé e saber Esse opúsculo reproduz o discurso proferido por Habermas em outubro de 2001, ao receber o Prêmio da Paz concedido pela Associação dos Livreiros da Alemanha. A ressonância mundial dos acontecimentos de 11 de setembro demandava que o filósofo se posicionasse sobre a relação atual entre ciência e religião. [caption id="attachment_37075" align="alignleft" width="100"] Fé e saber
Jürgen Habermas
Tradução: Fernando Costa Mattos
Unesp, 60 págs.[/caption] Habermas trata apenas de passagem do fundamentalismo religioso, apresentando-o como um fenômeno que grassa em países sujeitos a “uma modernização acelerada e fortemente desenraizadora”. A conferência aborda, em linhas gerais, a mudança, ante a postura histórica do Iluminismo, da relação entre fé e saber. Na sociedade atual, na qual predomina o Estado constitucional, apesar do avanço incontrolável da secularização, a ciência e a religião configuram campos próprios. Seus valores competem “livremente” na esfera pública, sob formas muitas vezes conflitivas, como no caso das aplicações da engenharia genética à vida humana. Habermas mostra-se mais interessado em rebalancear o peso desses valores na esfera normativa, isto é, na determinação da ação. Na trilha de Kant, Hegel e Max Weber, procura destacar que a ciência, sobretudo em sua vertente atual, predominantemente naturalista, não contém elementos suficientes para fundamentar a vida moral. A arte no mundo dos homens: O itinerário de Lukács [caption id="attachment_37076" align="alignleft" width="122"] A arte no mundo dos homens: O itinerário de Lukács
Celso Frederico
Expressão Popular,
184 págs.[/caption] Celso Frederico reconstitui as diferentes etapas da reflexão sobre a arte de Georg Lukács a partir de um ponto de vista preciso, o da ontologia do ser social. Seu pressuposto é o de que “o método de pesquisa deve sempre privilegiar as obras finais de um autor para, através delas, compreender plenamente o sentido, ainda não explicitado das obras iniciais”. O livro apresenta-se, assim, tanto como uma introdução às ideias estéticas de Lukács quanto como uma reconstituição da gênese de sua última obra, a recém-traduzida Para uma ontologia do ser social. No rastreamento de Frederico, tudo começa com a leitura feita por Lukács, nos anos 1930, dos Manuscritos econômico-filosóficos de Marx. À luz desse parâmetro, Frederico – após um breve comentário sobre as ideias estéticas de Hegel, de Feuerbach e do jovem Marx – expõe as coordenadas principais do itinerário da reflexão estética de Lukács: a teoria do realismo artístico, os três volumes da Estética, a teoria da arte de Para uma ontologia do ser social. Destaca ainda as diferenças entre essa concepção e as teorias de Brecht, de Walter Benjamin e da obra de juventude do próprio Lukács. Contra a servidão voluntária [caption id="attachment_37077" align="alignleft" width="122"] Contra a servidão voluntária
Marilena Chauí
Organização: Homero Santiago
Autêntica, 206 págs.[/caption] Primeiro volume da coleção “Escritos de Marilena Chauí”. A série propõe reunir, segundo temas específicos, ensaios, artigos e intervenções já publicados ou inéditos. Esse volume organiza-se em torno das interpretações feitas, entre 1982 e 2013, pela filósofa brasileira do Discurso da servidão voluntária, obra clássica do francês Étienne de La Boétie (1530-1563). Os textos coligidos situam-se em planos distintos. Um deles agrupa ensaios dedicados a apresentação, comentário e interpretação da obra de La Boétie (com destaque para o artigo que acompanha a tradução brasileira do Discurso da servidão voluntária). O outro estabelece afinidades entre o pensamento de La Boétie e autores mais recentes, como Pierre Clastres e Paul Lafargue (numa associação inesperada). Num terceiro, a autora vale-se dos conceitos de La Boétie para explicar tópicos como os “fundamentos teológico-jurídicos” da escravidão, a violência do discurso do ministro da Justiça da “Nova República” e os impasses do sindicato polonês Solidariedade. O volume contém, ainda, uma entrevista com a autora feita pelo organizador, na qual ela discorre sobre as semelhanças e diferenças entre La Boétie e Espinosa. Aborda ainda a peculiaridade de sua leitura e sua incorporação da reflexão de La Boétie, em especial a tese de que “o social é determinante para pensar o político”. Dimensões políticas da justiça [caption id="attachment_37081" align="alignleft" width="120"] Dimensões políticas da justiça
Orgs.: Leonardo Avritzer, Newton Bignotto, Fernando Filgueiras, Juarez Guimarães, Heloísa Starling
Civilização Brasileira,
658 págs.[/caption] Estruturado nos moldes de uma enciclopédia, o livro agrupa verbetes redigidos por 57 autores, compondo um painel representativo da ciência política, da sociologia jurídica e da filosofia política praticadas no Brasil. A relação entre política e justiça é esmiuçada em três blocos. O primeiro procura situar o tratamento concedido ao tema da justiça nas diferentes vertentes da teoria política. O leque abrange desde o republicanismo (tendência à qual se filiam os organizadores), jusnaturalismo, liberalismo, socialismo até linhagens mais recentes como as teorias dos sistemas e do reconhecimento, a democracia deliberativa e o feminismo. Os verbetes do segundo bloco debruçam-se sobre a dimensão institucional da justiça, com base nas três fontes do constitucionalismo moderno: as revoluções inglesa, norte-americana e francesa. Destacam-se, nessa parte, os artigos de Luiz Werneck Vianna e Leonardo Avritzer sobre a “judicialização da política”. O terceiro bloco, contendo mais que o dobro de entradas que as anteriores, trata da questão da justiça no Brasil desde a Abolição. Uma série de verbetes tenta compreender a ação de diferentes esferas da justiça: a penal, eleitoral, do trabalho, militar, o Conselho Nacional de Justiça, o Ministério Público etc. A outra série pauta demandas sociais como direitos indígenas, raciais, à memória e à verdade, agrários, urbanos etc. O livro se encerra com três artigos sobre a resistência em gêneros musicais: a canção popular, o rap e o funk.