Ontem, começou a morrer a zona do euro

A imposição de uma humilhação nacional, contra a vontade inequívoca e esmagadora de um povo, à qual se seguirão mais três anos de massacre gerará inevitavelmente um ressentimento profundo

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A imposição de uma humilhação nacional, contra a vontade inequívoca e esmagadora de um povo, à qual se seguirão mais três anos de massacre gerará inevitavelmente um ressentimento profundo Por Marisa Matias*, no Esquerda.net Na maratona noturna de ontem, jogava-se a sobrevivência do Euro e projeto europeu. Hoje de manhã, são muitos os que celebram a salvação da Zona Euro e da Grécia. Os mais ousados ainda puxam dos ideais da união e da solidariedade, celebrando um novo pacote de “ajuda à Grécia”. A realidade é que, esta noite, atravessaram-se várias das fronteiras que tinham sido declaradas como intransponíveis. A mais clara de todas foi a irreversibilidade do Euro, pulverizada por um ultimato escrito com todas as linhas. Com esta, foi-se também a da democracia. A União Europeia nunca foi uma União democrática mas foi, até hoje, uma União de Estados democráticos. Ambas estão associadas. Na Europa da Sra. Merkel, a porta da rua é serventia de quem não obedece. O acordo que ontem foi imposto, sob ameaça de expulsão, traz de volta a austeridade e sequestra ativos fundamentais do Estado grego. Curiosamente, nessas condições, a reestruturação da dívida grega, que Schäuble tinha garantido ser contra os tratados, poderá ser discutida. Os termos deste acordo são relevantes para determinar o que será o futuro da Grécia e do primeiro governo grego que se atreveu a lutar para defender o seu país, mas temo bem que, para a Europa, seja tarde demais. A imposição de uma humilhação nacional, contra a vontade inequívoca e esmagadora de um povo, à qual se seguirão mais três anos de massacre gerará inevitavelmente um ressentimento profundo. As respostas a esse ressentimento só poderão ser emancipatórias, senão não serão respostas, mas terão que ser certamente construídas contra esta pseudo-União, na Grécia e onde quer que os cidadãos se fartem dos maus-tratos de uma elite de rufias e mafiosos. Agradeçam à Sra. Merkel: ontem à noite, começou a morrer a Zona Euro. Paz à sua alma. *Eurodeputada, dirigente do Bloco de Esquerda, socióloga. Título original: O princípio de novos princípios Foto: Pixabay