Opinião: Pela unidade da América Latina

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Buenos Aires, capital da Argentina, já teve quase 30% de sua população formada por negros e afrodescendentes no ano de 1850. Na Venezuela esse índice era de 70% e na Colômbia, 80% somente em 1901, sendo que o estado colombiano de Chocó tinha 98% da população negra e o Uruguai chegou, inclusive, a ter um partido formado majoritariamente por negros, o Partido Negro Autoctono. Nas Américas – portuguesa e espanhola – a presença africana se deu pela exploração do trabalho compulsório por parte dos senhores de engenho, latifundiários e membros das classes mais abastadas. No entanto, houve vários episódios de resistência cultural, humana e histórica. Essas resistências acontecem por meio das revoltas nos quilombos, cimarrones, pelenques e cumbes. Certos capítulos dessa trajetória apontam incontáveis vitórias sobre o explorador: a derrota de Napoleão Bonaparte para o negro Toussaint L’Overture levou o Haiti à sua independência e Zumbi construiu uma verdadeira República dos Palmares de feitio socialista, de base comunal, em pleno coração do Brasil-Colônia. Em todos esses episódios sombram coragem, determinação e correta direção política por parte dos filhos da diáspora.

Para dar continuidade a essa tradição de luta classista é que foi lançada no dia 13 de abril de 2009, a Organização Latinoamericana de Entidades Negras-OLAEN, durante encontro de Etnoeducação – educação de negros e indígenas – realizado em Guayaquil no Equador. Fato que concretiza o avanço dos laços de fraternidade, cooperação e unidade de ação política em prol de afro-latinoamericanos. As organizações negras têm o desafio de aumentar a ressonância da luta contra o neoliberalismo e continuar o apoio aos governos populares e progressistas na região; entre os quais Lula no Brasil, Evo Morales na Bolívia, Hugo Chavez na Venezuela, Rafael Correa no Equador, Michele Bachelet no Chile, entre outros. Em razão da qual efetivas políticas de promoção da igualdade racial estão sendo gestadas. No Chile há a “Rota da Escravidão” – museu a céu aberto -; no Panamá há um museu semelhante; no Brasil há o Prouni, Bolsa Família e Lei 11.645 destinada a incluir no currículo escolar a História Afro-índigena; na Bolívia foram criadas 3 universidades específicas das etnias Guarany, Quencha e Aimara; na Colômbia há o resgate do patrimônio cultural afrocolombiano. Precisamos destacar nessas experiências a Agenda Política das Mulheres Negras e o Projeto Afromérica XXI ( que reúne atividades de combate às DST/AIDS, inclusão cidadã e geração de emprego ) desenvolvidos por militantes do Equador. Em todas elas o sentimento de pertencimento étnico tem um forte componente de participação popular nas decisões dos governos e uma grande capacidade de articular com diversos setores tanto da iniciativa privada, da Igreja Católica e do Estado.


Alexandre Braga é militante da UNEGRO-União de Negros Pela Igualdade e do Fórum Mineiro de Entidades Negras.
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