Opinião: Um dia histórico para os descendentes de africanos do mundo: A vitória de Barack Obama

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Inicio este artigo narrando um pouco o processo das eleições americanas. Não tratarei aqui de concepção ideológica, nem das questões da crise econômica, mas do simbolismo dessas eleições para o debate étnico-racial.

Assisti, li jornais, revistas, em fim, acompanhei com entusiasmo a escolha do novo presidente dos Estados Unidos da América. Depois de prévias e de debates acalorados, restaram-se dois nomes: Barack Obama, do Partido Democrata x John MacCain, do Partido Republicano. Terminado a apuração fora eleito, no dia 04 de novembro, o  senador e advogado Barack Hussein Obama Junior, com 47 anos de idade. Era eleito o primeiro presidente negro da maior potência capitalista do mundo. Obama  passava a ser o mais importante líder político norte-americano desde Jonh Kennedy. Uma eleição  histórico para o povo negro. Mas, o que se pode considerar fantástico nesta eleição, foi o fato dos mais de 130 milhões de eleitores, dos 56 estados americanos sejam eles; jovens ou idosos, ricos ou pobres, negros ou brancos, mulheres ou homens, heterossexuais ou homossexuais, hispânicos ou asiáticos irem às urnas e afirmarem como as pesquisas já apontavam, a confiança, em um negro chamado Barack Obama.

Obama, filho de um negro do país africano Quênia com uma branca americana, de origem pobre. Quando o seu pai casou com sua mãe, a relação inter-racial era considerada crime nos Estados Unidos. Aos noves anos de idade Obama começa a enfrentar o racismo norte-americano, e aos 10 anos fica órfão de mãe que morrera de câncer, e passar a ser criado, educado pelos avôs materno, no Havaí. Ganhou evidência por sua trajetória de vida e personalidade. Iniciou sua carreira como líder em comunidades carentes de Chicago e formou-se em Direito na Havard Law School (Escola de Direito de Harvard). Obama foi o primeiro negro eleito presidente da Harvard Law Reviem- Revista de Direito de Harvard. Depois foi eleito deputado e mais tarde se torna o terceiro negro a se eleger senador por Chicago, Illinois. Além de dedicação à política mostrou-se um talentoso escritor, como se pode confirmar com o livro: A ORIGEM DOS MEUS SONHOS, de Obama.

Obama, menino pobre, supera todas as adversidades da vida e enfrenta o debate sobre a questão racial, questão que muitos analistas das eleições americanas foram obrigados a pautar em seus editorais. Todas essas situações vividas por Obama poderiam ter sido um entrave para sua brilhante carreira. Obama superar tudo e torna-se um vencedor, com muita sensibilidade, fruto de sua origem humilde. Parece-me que ele conquistou o mundo com seu discurso e dentro da comunidade negra passou um sentimento de orgulho pelas suas conquistas.

O dia das eleições americanas, 4 de novembro de 2008 passou a ser uma data histórica. Assim como é o dia 21 de março, o dia 13 de maio, o dia 20 de novembro, para o povo afrodescendentes.

Veja que Obama estará tornando realidade, concretizando o grande sonho de Martin Luther King, o grande líder negro americano que lutou pelos direitos civis dos cidadãos, principalmente contra todas as formas de discriminação racial, que em um dos seus melhores discursos, proferido na Igreja Batista de Holt Street, Alabama/EUA, em 05/12/1955, com o título: “EU TENHO UM SONHO”, oportunidade em que disse: “Não podemos caminhar sozinhos. E, enquanto caminhamos, devemos prometer que sempre marcharemos adiante. Não podemos voltar. Há quem pergunte aos devotos dos direitos civis: Quando ficarão satisfeitos? Não ficaremos satisfeitos enquanto o negro for vitima dos inarráveis horrores da brutalidade policial. Não ficaremos satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados pela fadiga da viagem, não obtiverem hospitalidade nos hotéis das rodovias e das cidades. Não ficaremos satisfeitos enquanto a única mobilidade social a que um negro possa aspirar seja deixar o seu gueto por um outro maior... Eu tenho um sonho, um sonho profundamente enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e experimentará o verdadeiro significado de sua crença. Acreditamos que essas verdades são evidentes, que todos os homens são criados iguais”.

Sou da concepção de que o Estado deve ser indutor, o gestor principal de políticas sociais que repare os danos causados pela discriminação racial, que durou séculos em diversos países do mundo, e no Brasil duraram 300 anos, precisando, portanto desenvolver políticas de ações afirmativas como fizera a Índia e o próprio EUA, no sentido de indenizar os descendentes de africanos que vieram para serem as mãos e os pés dos senhores e da aristocracia da época.

Hoje podemos observar uma maior visibilidade de negros (as) discursando no Congresso Nacional: câmara de deputado e no senado da republica, nas assembléias estaduais, nas câmaras municipais. Negros (as) Presidente da República, Governadores, Secretários (as), Prefeitos, negros (as) Ministro do Supremo Tribunal Federal, negros (as) juizes, procuradores, advogados, médicos, administradores, negros professores com doutorado, mestrados em grandes universidades do mundo, negros sendo pela primeira vez campeão mundial da formula 1, negros como sujeitos protagonistas de sua própria história, em papeis de atores principais em novelas e, em comerciais. Muitos conquistando sucessos através dos seus próprios méritos, sem nenhuma ajuda do Estado. Com percentual ainda muito reduzido.

Pode-se dizer que algo esta mudando. Mas ainda há muito para se fazer. Segundo, o Professor. Dr. Marcelo Paixão/UFRJ, o IDH nos apontam dados que ainda precisam ser superados. Se não vejamos: O IDH dos considerados pardos & pretos = negros, ainda é negativo, se comparado com os dos considerados brancos, seja na educação (combate ao analfabetismo com acesso aos níveis de ensino médio, fundamental e superior), na saúde (combate a mortalidade infantil), no mercado trabalho (combate ao trabalho escravo e com seus direitos trabalhistas garantidos).

Há ainda um grande desafio para governos, gestores e líderes políticos na concretização e construção da tão sonhada igualdade para todos.

Cabe dizer por fim, que as oportunidades e a liberdade para os negros começaram a surgir com as lutas de líderes, como: Martin Luther King, Malcon X, Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Luiza Mahin, Negro Cosme e de muitos outros militantes do combate anti-racismo do mundo, daí dizer:: SIM, NÓS PODEMOS como disse, BARACK OBAMA é uma realidade.

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Sílvio Bembem é administrador, pós-graduando em Sociologia das Interpretações do Maranhão/UEMA, Secretário-Adjunto de Igualdade Racial do Governo do Maranhão.
E-mail: [email protected]

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